Para quem não sabe ou não lembra, o senador Renan é presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, apesar de ser uma voz silenciosa sobre os eventos internacionais que vivemos.
Talvez por que isso não lhe desperte qualquer interesse, o que parece acontecer também com todos os grandes temas nacionais do momento.
Acima de tudo territorialista, sua guerra é aqui em Alagoas, em cujo poder ele finalmente se instalou, a partir da chegada de Filho ao governo, e vai fazer de tudo para dele não sair.
Volto a repetir: a CPI da Braskem pode, sim, trazer benefícios para os cofres estaduais, e mesmo que marginalmente, para parte da população atingida.
Ao conseguir criar a Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado, Calheiros leva para o seu octógono em Brasília a disputa de poder em Alagoas – e pode sobrar algum troco ($) para a população.
Seu alvo principal é JHC, um personagem que em outros tempos da história política de Alagoas não teria tamanho para estar onde está, mas que se tornou a grande ameaça para o grupo do senador.
Durante cinco anos Calheiros foi só silêncio em relação do tema, período em que o Filho, governador, foi omisso e cúmplice da mineradora. Mas ele “sabe fazer a hora” – e está fazendo, ao seu estilo de senhor da guerra. Se o ex-governador tivesse ao menos levantado um braço, quando o problema surgiu, o drama de dezenas de milhares de maceioenses – do entorno – teria sido atenuado. Não por acaso, Maceió lhe deu a resposta nas urnas.
Seu embate com Rodrigo Cunha chega a ser risível. Este último foi o primeiro a encarar o tema, mas abandonou-o, movido pela fraqueza e falta de resiliência que lhe são características: perdeu o bonde da história, enquanto Calheiros tornou-se o motorneiro – pelo menos desse trem descarrilhado e paroquial.
Que ninguém queira enxergar empatia onde ela nunca teve morada, mas como dizia Dom Hélder, não podemos abandonar bandeiras certas, mesmo que elas estejam em mãos erradas.
Ninguém foi – e sempre – tão “amigo” da Braskem quando o senador do MDB, mas político que se preze não tem amigos ou aliados: todos são transitórios, a depender dos interesses do momento.
Como diz um “amigo” dele, talvez o mais leal do momento, Calheiros vive disso e para isso – e só. Ainda que tenha se tornado um senador estadual.
No seu octógono, lá em Brasília, quem faz as regras da luta (briga de rua, mesmo) é ele, enquanto a sua turma local aplaude e vibra, uma plateia ruidosa que não sai perdendo nos negócios da política.
Renan e Arthur Lira, eis o busílis, dividem a mesma alma: ambos são muito temidos, o que é muito diferente de serem respeitados ou amados (está em O príncipe esse ensinamento).
Que fique claro: os dois podem até se unir mais adiante, é do jogo em que eles são “craques”, mas enquanto não houver um acerto, o pau vai cantar.
Que venha a CPI da Braskem, e que ele deixe sobrar pelo menos alguns trocados para os ofendidos e atingidos pela tragédia em Maceió.
Texto – Ricardo Mota
Fonte – Cada Minuto