As festas juninas são momentos de alegria e celebração para muitas famílias. No entanto, para idosos, animais e algumas crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), esses eventos podem ser um verdadeiro desafio. A combinação dos fogos de artifício, as músicas altas e outros sons intensos podem causar grande desconforto e estresse para pessoas que possuem hipersensibilidade.
A hipersensibilidade é uma característica muito comum em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nessa condição, o sistema nervoso enfrenta dificuldades ao processar estímulos ambientais e sensoriais, os sentidos são mais aguçados e reagem de forma intensa a estímulos do ambiente, como luzes, sons, cheiros e texturas.
Camila da Costa é mãe de duas crianças com TEA: Júlia, de 11 anos, e Ícaro, de 2 anos. Ela relata que sua filha mais velha sofreu intensamente durante a infância devido aos fogos de artifício. Devido à hipersensibilidade auditiva, Júlia tinha crises fortes e desenvolveu um medo intenso de sair de casa.
“Era muito difícil para a nossa família sair com Júlia durante os períodos de festas religiosas, como São João e final de ano, por causa dos fogos de artifício que são soltos de forma inesperada. Menos no Ano Novo, que tem o horário específico. Passei muitos anos em casa com Júlia. Moramos praticamente à beira-mar, e posso dizer que faz anos que não vejo a queima de fogos.”
Camila relata que, atualmente, Julia não se esconde, mas ainda fica apreensiva e só relaxa quando os fogos cessam. Para ajudá-la, a família adotou estratégias de dessensibilização auditiva, expondo-a gradualmente ao som dos fogos, começando com volume mínimo e aumentando aos poucos. Além disso, explicaram a ela o motivo dos fogos, associando eles às datas comemorativas, que ela adora devido ao calendário e às festas, o que fez sentido para ela.
“Antes era algo até perigoso! Quando estávamos na rua com ela, quando ela era mais nova, ela não tinha aquela noção de perigo, de sair correndo e acontecer alguma coisa. O perigo para ela era o barulho. Ela se soltava da minha mão, se abaixava, queria correr; nunca aconteceu, mas poderia ter causado um acidente.
Todos os anos, quando se aproximam as datas comemorativas em que é comum soltar fogos de artifício, Camila faz campanhas de conscientização. Seu propósito é alertar a população sobre os impactos do barulho, sobre especialmente os efeitos que ele pode ter em pessoas sensíveis. Ela já utilizou sua filha, Júlia, como um exemplo para transmitir a mensagem da importância de considerarmos o bem-estar de todos durante as celebrações.
Nem todos possuem reações adversas
Conforme a psicóloga Maria Vicência Lyra, especialista em Análise do Comportamento Aplicada ao Autismo, não são todos os indivíduos autistas que têm reações adversas aos fogos de artifício ou à fumaça, mas uma parcela significativa daquelas pessoas dentro do Espectro Autista (TEA) podem se sentir desconfortáveis. Sensações como odores fortes, texturas estranhas, sons intensos e sabores inesperados podem ser particularmente perturbadoras, criando um ambiente de desconforto e ansiedade para muitos autistas.
Os fogos podem causar uma sobrecarga sensorial, além de ser algo sem previsibilidade, o que aumenta o desconforto.
Além da hipersensibilidade sensorial, a rigidez cognitiva associada ao TEA pode dificultar a adaptação a situações imprevisíveis, como as celebrações que envolvem fogos de artifício. A incapacidade de prever ou controlar esses eventos pode levar a um aumento no estresse e na ansiedade, tornando necessário um planejamento cuidadoso por parte de familiares e cuidadores.
Animais também não estão seguros
À medida que as datas comemorativas se aproximam, os tutores de pets começam a sentir a tensão. Os fogos de artifício costumam aterrorizar os animais, que podem acabar se sentindo mal ou, em casos extremos, fugindo. Cães, por exemplo, têm uma audição muito mais apurada do que a dos humanos, o que os faz sofrer com barulhos acima de 60 decibéis.
A recomendação é que os animais mais sensíveis fiquem perto dos donos durante a queima de fogos para se sentirem mais seguros.
Luane Amorim mora no bairro Jatiúca, em Maceió, uma área próxima à praia, onde são realizadas as tradicionais queimas de fogos de Ano Novo e outras celebrações. Ela compartilha que sons altos e estrondosos deixam seu animal de estimação, Apolo, extremamente agitado.
“Apolo já é agitado naturalmente. Eu estou em um processo para tentar deixá-lo mais calmo, e estava funcionando até agora, mas com os fogos se tornou muito difícil. Ele não chega a passar mal, mas fica muito irritado. Ele vai para a varanda e começa a latir em direção aos fogos.”
Fonte – Extra