O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou em um relatório que a empreiteira Construservice, alvo de investigações por desvios em obras pagas com emendas parlamentares, repassou recursos para uma empresa vinculada ao gabinete do senador Eduardo Gomes (PL-TO). O senador, atual 1º vice-presidente do Senado e ex-líder do governo de Jair Bolsonaro no Congresso, é investigado pela Polícia Federal (PF) após seu ex-assessor, Lizoel Bezerra, aparecer em mensagens cobrando valores de um secretário parlamentar de um deputado investigado por desvios.
O Coaf identificou que entre setembro de 2018 e setembro de 2019, a Construservice repassou R$ 200 mil à BG Rental, empresa de locação de automóveis de Breno Godinho, ex-sócio de Lizoel Bezerra. Durante o mesmo período, o senador contratou a BG Rental para seu gabinete e pagou R$ 57 mil pela locação de veículos entre fevereiro e maio de 2019. Além disso, a campanha de Gomes ao Senado em 2018 também fez um pagamento de R$ 50 mil à empresa.
A relação entre a BG Rental e o ex-assessor de Gomes é um dos focos da investigação da PF, que já está em andamento no âmbito de um inquérito que apura desvios em obras da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), custeadas com recursos de emendas parlamentares. A Construservice é uma das empresas investigadas nas operações Odoacro, Emendário, Overclean e Benesse, que apuram fraudes em contratos públicos pagos com essas emendas.
No relatório do Coaf, também foi mencionado que uma “pessoa detentora de foro por prerrogativa de função” está envolvida nas transações suspeitas entre a Construservice e a BG Rental, o que fez com que a comunicação fosse enviada à PF com a devida autorização judicial. Esse detalhe reforça o vínculo entre o esquema de desvios e figuras com foro privilegiado.
A relação entre o senador Eduardo Gomes, sua campanha e a BG Rental, bem como as movimentações financeiras de sua equipe, levantam suspeitas sobre o uso de emendas parlamentares e do chamado orçamento secreto, que aumenta a opacidade nos repasses públicos. Além da investigação da PF, o Supremo Tribunal Federal (STF) acompanha ações relacionadas à transparência das emendas, com o ministro Flávio Dino sendo o relator de casos que discutem o tema.
Defesa do senador e silêncio das empresas
A assessoria de Eduardo Gomes afirmou que o senador não tem “nada a dizer sobre fatos que envolvam terceiros” e, em outra oportunidade, declarou que Lizoel Bezerra trabalhou como motorista em campanhas políticas, não sendo funcionário do gabinete de Gomes no Senado. A coluna tentou contato com a BG Rental e a Construservice, mas não obteve retorno.
O caso continua sendo investigado e pode ter implicações significativas em relação a esquemas de corrupção envolvendo emendas parlamentares, principalmente as de orçamento secreto, que seguem sendo alvo de controvérsias no país.