Quando entrevistei o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PL), sobre a reforma administrativa prometida por ele mesmo ainda em dezembro do ano passado (em regime de urgência a autorização para esta foi aprovada na Câmara Municipal de Maceió), indaguei ao chefe do Executivo municipal da capital alagoana sobre dois pontos:
- As razões pela demora em se estruturar uma reforma para a qual o Executivo tinha, em tese, pressa e;
- Se essa serviria para a composição de alianças políticas em razão das eleições do próximo ano, fazendo com que JHC tivesse ao seu lado o mesmo bloco político que se uniu contra o MDB nas eleições estaduais passadas.
Em poucas palavras, JHC – naquele momento – respondeu que a reforma administrativa estava sendo pensada para dar mais agilidade nas “entregas” da Prefeitura de Maceió; que – em razão disso – privilegiaria critérios técnicos, apesar dos componentes políticos presentes em qualquer administração pública.
Além disso, JHC frisou que, independente da reforma, seria natural que o mesmo bloco marchasse junto nas próximas eleições, mas que essa discussão só seria feita no tempo adequado.
Todavia, a realidade – pelo menos em função das informações que circulam pelos bastidores – é outra.
É natural que o prefeito se utilize dos “clichês” já conhecidos da política, como enaltecer o foco na gestão e afirmar que eleições só se discutem próximo das eleições. Mas, fora dos holofotes, a eleição municipal já se encontra em andamento.
Logo, JHC sabe muito bem disso e tem trabalhado sim o “xadrez político” para o embate vindouro. Ora, nesse sentido, a reforma administrativa serve sim de abrigo para as alianças políticas e visa abrir as portas da Prefeitura de Maceió para a consolidação de um grupo, como temos visto nas publicações da imprensa.
Não por acaso, após a publicação em Diário Oficial do Município, de como ficará a nova estrutura do Executivo municipal, muitos possíveis rivais de JHC no próximo ano já dão declarações sobre o processo eleitoral.
Na política, nada é por acaso.
Uma dessas sentenças proferidas sobre as disputas que se anunciam foi dada pelo deputado federal Alfredo Gaspar de Mendonça (União Brasil), que tem feito um mandato de destaque no Congresso Nacional, com posicionamentos firmes que o situam ainda mais como uma oposição às esquerdas locais. Gaspar de Mendonça, por conta dos méritos que conquistou com sua atuação, já era visto como um possível candidato à Prefeitura de Maceió.
Recentemente, em entrevista ao jornalista Ricardo Mota, aqui no CadaMinuto, Gaspar de Mendonça foi enfático: não será candidato à Prefeitura de Maceió. Para bom entendedor é de se compreender que a estrada de aproximação entre o parlamentar do União Brasil e o prefeito JHC já pode estar sendo pavimentada, ainda que eles já tenham se enfrentado em eleições municipais passadas.
Outro nome é o do deputado federal Fábio Costa (Progressistas). Costa, conforme bastidores, já cogita disputar uma outra Prefeitura: a de Marechal Deodoro.
Costa e Alfredo Gaspar de Mendonça – segundo a pesquisa eleitoral mais recente, publicada pelo Instituto Paraná Pesquisas – apareciam bem posicionados, ficando abaixo apenas do prefeito JHC, na disputa pela Prefeitura de Maceió.
Com possíveis alianças com esses dois nomes, o atual prefeito consegue “limpar o terreno”, eliminando adversários e, ao mesmo tempo, conquistando aliados com densidade eleitoral considerável.
Com isso, JHC ainda se reaproxima do presidente da Câmara dos Deputados, o deputado federal Arthur Lira (Progressistas), tendo ainda espaço – na chapa – para a indicação de um vice-prefeito a disputa de 2024.
Além disso, anotem aí, uma possível ida do senador Rodrigo Cunha (União Brasil) para o PSD pode alterar o cenário de forma ainda mais favorável a JHC, uma vez que Cunha e JHC são aliados políticos e o PSD é – atualmente – uma sigla na base do governador Paulo Dantas (MDB). Nesse sentido, Rui Palmeira – o secretário estadual de infraestrutura – perderia o PSD.
A reforma administrativa também pode estreitar ainda mais os laços com emedebistas da capital alagoana, como os vereadores Galba Netto (MDB) e Chico Filho (MDB). Há nela (a reforma) um caminho para fortalecer a base governista na Câmara Municipal de Maceió. Movimento importante para uma eleição em que ninguém pode ser candidato de si mesmo, pois naturalmente é assim a disputa pelo Executivo.
A reforma administrativa é uma “faca” e um “queijo” na mão do prefeito que tem componentes políticos importantíssimos. Bem diferente, por sinal, das declarações de JHC quando falava da prioridade dos critérios técnicos para tais indicações. O prefeito se reforça em um cenário em que já é favorito, conforme as pesquisas eleitorais já feitas.
Do outro lado, estarão os “palacianos” dentro de um cenário que vai se polarizando. O MDB do senador Renan Calheiros, que vai construindo uma hegemonia em Alagoas, com vários prefeitos filiados e a possibilidade de conquistar diversas prefeituras em 2024, tem dificuldades – no atual cenário – de ter um candidato competitivo na capital alagoana. A missão é árdua para os emedebistas que miram nessa possibilidade. Dentre eles, o deputado federal Rafael Brito (MDB).
Fonte: Blog do Vilar