A possível cassação do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) abriu um novo foco de tensão dentro da federação PSOL/Rede. O motivo central não é apenas a perda de um mandato, mas a inquietação nos bastidores com quem pode assumir a cadeira: a ex-senadora e ex-ministra Heloísa Helena (Rede-RJ), suplente direta de Glauber.
Nos corredores do PSOL, o sentimento é claro — a volta de Heloísa ao Congresso causaria um abalo político difícil de administrar. Seu perfil combativo, sua histórica independência e as críticas abertas ao PT — partido com o qual rompeu em 2003 — fazem da ex-parlamentar uma figura vista como imprevisível e, sobretudo, indesejada no atual momento político da federação.
“A possível cassação do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) tem causado apreensão dentro da federação PSOL/Rede, não apenas pelas circunstâncias do processo que ameaça seu mandato, mas também pelas implicações políticas da provável posse de sua suplente, a ex-senadora e ex-ministra Heloísa Helena (Rede-RJ)”, destacou a Folha de S.Paulo.
A preocupação é compartilhada por aliados do governo Lula, que temem que a atuação de Heloísa, caso assuma o mandato, gere ruídos na base aliada e dificulte votações importantes no Congresso. Heloísa tem um histórico de enfrentamentos com lideranças de todos os partidos pelos quais passou, inclusive dentro da própria Rede, onde se desentendeu recentemente com o deputado Túlio Gadêlha (PE) e protagonizou disputas internas.
Apesar de Glauber Braga estar relativamente isolado dentro do PSOL, dirigentes admitem, sob reserva, que ele representa um desgaste menor do que Heloísa. Glauber, apesar dos embates — como o confronto direto com Arthur Lira (PP-AL), que culminou no processo de cassação —, não tem a mesma projeção nacional que a ex-senadora, que chegou a disputar a Presidência da República em 2006 com 7% dos votos.
Nos bastidores, há quem defenda usar o temor da volta de Heloísa como uma carta de pressão para salvar o mandato de Glauber. A leitura é que, para figuras como Arthur Lira, tê-la na Câmara pode ser ainda mais desconfortável do que manter o atual titular.
Enquanto isso, Heloísa evita alimentar a polêmica. Procurada pela imprensa, limitou-se a manifestar apoio ao colega de federação: “Glauber tem minha total e irrestrita solidariedade, é um processo escandaloso de dosimetria completamente desproporcional. Glauber é um homem honrado, tem meu apoio incondicional”, declarou.
Com um histórico marcado por embates, campanhas milionárias e derrotas eleitorais recentes, a ex-senadora volta ao centro de uma disputa política não por suas ações diretas, mas pelo receio que sua presença desperta. Para muitos no PSOL, o verdadeiro impacto da cassação de Glauber pode estar no que vem depois dela.