O Copom, sob a liderança de Gabriel Galípolo, deve dar continuidade ao ciclo de aperto monetário, elevando a taxa Selic em 1 ponto percentual, em linha com as expectativas do mercado. Essa decisão visa controlar a inflação e garantir a estabilidade econômica, mesmo diante das incertezas do cenário externo.
Essa é a previsão da maioria dos economistas do mercado financeiro, que se baseiam na orientação do próprio Banco Central, divulgada em dezembro do ano passado.
Caso se confirme, será a quarta alta seguida da taxa Selic. A expectativa é de novos aumentos nos próximos meses, com a taxa ultrapassando os 15% ao ano até meados de 2025, o maior nível em quase 20 anos.
Esta também será a primeira reunião do Copom em que os diretores indicados pelo presidente Lula terão a maioria no colegiado, o que significa que serão eles os responsáveis pela decisão final.
- Com a autonomia operacional do BC aprovada pelo Congresso Nacional, e válida desde 2021, os diretores da instituição passaram a ter mandato fixo.
- Até o fim do ano passado, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, assim como a maioria da diretoria, era composta por indicados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Lula e o Partido dos Trabalhadores
Campos Neto e a diretoria anterior do Banco Central, indicada por Bolsonaro, foram alvo de críticas constantes, não apenas do presidente Lula, mas também da presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann. As críticas se concentraram no aumento excessivo da taxa básica de juros, com a alegação de que isso prejudicaria a economia, afetando negativamente o emprego e a renda.
No final do ano passado, Lula moderou seu discurso. Ele publicou um vídeo, acompanhado de ministros e de Galípolo, no qual defendia a estabilidade econômica do país e o combate à inflação. Além disso, fez gestos de aproximação ao mercado e garantiu que “jamais haverá interferência” na gestão do futuro chefe da autoridade monetária.
“Por isso que quero te desejar boa sorte, que Deus te abençoe. Eu quero que você saiba que jamais, jamais haverá da parte da presidência qualquer interferência no trabalho que você tem que fazer no Banco Central”, disse Lula, na ocasião.
No entanto, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, continuou com a postura crítica. Após a última decisão do Copom em dezembro, que aumentou os juros para 12,25% ao ano, ela chamou a medida de “irresponsável, insana e desastrosa”.
“Não faz sentido nem seria eficaz para evitar alta da inflação, que não é de demanda. Nem para melhorar a situação fiscal, muito pelo contrário. Esse 1 ponto a mais vai custar cerca de R$ 50 bilhões na dívida pública. E não faz sentido para um país que precisa crescer e continuar gerando empregos”, avaliou Hoffmann, por meio de rede social, naquele momento.
Conforme informou em dezembro o ex-presidente do Banco Central, Campos Neto, a influência dos diretores mais recentes da instituição – incluindo seu sucessor, Gabriel Galípolo – foi crescente nas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), incluindo a de dezembro.
“A nomeação de Gabriel Galípolo como presidente do Banco Central levanta questionamentos sobre a independência da política monetária [definições dos juros] e os impactos que suas decisões podem ter sobre o mercado financeiro e imobiliário. Se Galípolo seguir a linha do governo, pode haver uma pressão política para reduzir os juros mais rapidamente, o que poderia impulsionar o crédito e facilitar o financiamento imobiliário”, pontuou Pedro Ros, CEO da Referência Capital.
Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, destacou, no entanto, que os posicionamentos frequentes de Galípolo sugerem que o Banco Central deve manter a taxa Selic elevada para lidar com um cenário de economia dinâmica e moeda desvalorizada (com o dólar ainda alto). “Ele já havia alertado em outras ocasiões que a Selic pode permanecer alta durante sua gestão. Essa política contracionista é fundamental para controlar a inflação e estabilizar a economia”, acrescentou.
Pressão inflacionária
A taxa básica de juros é o principal instrumento do Banco Central para tentar combater as pressões inflacionárias, que afetam, principalmente, a população mais pobre.
Para definir os juros, a instituição segue o sistema de metas. Se as projeções estiverem dentro das metas estabelecidas, pode reduzir a taxa de juros. Se estiverem acima, tende a manter ou aumentar a Selic.
A partir de 2025, com a implementação do sistema de metas contínuas, a meta de inflação será de 3%, considerada atingida caso a inflação varie entre 1,5% e 4,5%.
- Ao definir a taxa de juros, o BC olha para o futuro, ou seja, para as projeções de inflação, e não para a variação corrente dos preços, ou seja, dos últimos meses.
- Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.
- Neste momento, por exemplo, a instituição já está mirando na meta considerando o primeiro semestre de 2026.
- Para 2025, 2026, 2027 e 2028, a projeção do mercado para a inflação oficial está em 5,5% (com estouro da meta), 4,22%, 3,90% e em 3,73%. Ou seja, acima da meta central de 3%, buscada pelo BC.
No ano passado, a inflação ultrapassou o teto do sistema de metas, atingindo 4,83%. Como resultado, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, precisou enviar uma carta pública ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, detalhando as razões para o descumprimento da meta.
Nos últimos meses, fenômenos climáticos, como secas, afetaram os preços dos alimentos e da energia elétrica, levando ao acionamento das bandeiras tarifárias para conter o consumo.
Outro fator que impactou a inflação foi o dólar elevado, associado ao cenário externo (ações do governo de Donald Trump) e à incerteza do mercado financeiro em relação às contas públicas, ou seja, à capacidade do governo brasileiro de controlar o aumento do endividamento.
Além disso, o ritmo acelerado da atividade econômica, que tem surpreendido analistas nos últimos anos e contribuído para a redução do desemprego a níveis históricos, também tem pressionado a inflação, especialmente no setor de serviços.
“Desde a reunião de dezembro, o Copom se deparou com novas rodadas de piora nas divulgações semanais da pesquisa Focus para expectativas de inflação, uma composição mais desafiadora para a inflação corrente, e uma taxa de câmbio que segue pressionada (ainda que com algum alívio na margem). Tais fatores, em conjunto com os modelos prospectivos de inflação, poderiam justificar a sinalização de ajustes de mesma magnitude para as próximas duas reuniões”, avaliou o Itaú, em comunicado.