Ronnie Lessa, o executor dos disparos que resultaram na morte de Marielle Franco e Anderson Gomes, teria revelado, segundo informações do Intercept Brasil, que Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, foi apontado como um dos mandantes do assassinato. O nome de Brazão surgiu pela primeira vez nas investigações em 2019, suspeito de obstruir o andamento do caso, e voltou à tona no ano passado, durante a delação premiada do ex-policial militar Élcio Queiroz, o motorista que conduziu o carro para Ronnie Lessa no momento do assassinato.
Lessa, detido desde 2019, recentemente firmou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal para fornecer novos detalhes sobre o caso. Entretanto, a homologação do acordo ainda aguarda aprovação do Superior Tribunal de Justiça. Ao ser questionado pelo Intercept, o advogado de Brazão, Márcio Palma, afirmou não ter conhecimento da menção ao nome do conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro na delação. Palma também declarou não ter acesso aos registros da investigação, pois, até o momento, Brazão não é formalmente investigado neste caso.
Domingos Brazão, de 58 anos, é líder de um influente grupo político na zona oeste do Rio, local associado às milícias. Esse clã inclui o deputado federal Chiquinho Brazão, o deputado estadual Manoel Brazão e o vereador Waldir Brazão, que adotou o sobrenome para fins eleitorais. Brazão, ao longo de cinco mandatos como deputado estadual, acumulou controvérsias e suspeitas de corrupção, sendo afastado e posteriormente realocado como conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Suas acusações incluem improbidade administrativa, fraude, conexão com a máfia dos combustíveis e envolvimento com milícias para compra de votos e formação de curral eleitoral.
Em 2019, Brazão foi formalmente acusado pela Procuradoria-Geral da República por participação em uma trama de obstrução das investigações do caso Marielle, após o depoimento do policial militar Rodrigo Jorge Ferreira acusar Marcello Siciliano e o miliciano Orlando Curicica como os mandantes do crime. Na época, a Polícia Federal suspeitou que as denúncias contra Siciliano e Curicica tinham o propósito de obstruir as investigações, e que Ferreira agiria em nome do grupo ilegal denominado “Escritório do Crime”. Posteriormente, esse grupo foi vinculado a Domingos Brazão.