“Hoje, a gente não tem uma real noção do que está abaixo do solo da cidade. O que temos são hipóteses, e uma delas é que Bebedouro, Bom Parto e os Flexais podem virar um lago.” A fala é do professor Dilson Batista Ferreira, que é arquiteto e urbanista, com mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente e doutorado em Energia. Ao Cada Minuto, Dilson explicou quais são as consequências que podem ocorrer caso a mina 18, situada no bairro do Mutange, venha a colapsar.
“Ninguém nunca monitorou isso: nem o Estado, nem a prefeitura, nem os órgãos federais, nem a Agência Nacional de Mineração, CPRM. Ninguém nunca monitorou. Aí é uma questão de várias gestões”, comentou.
O professor explicou que não se tem noção da profundidade das minas, porque não se tem dados consistentes nos órgãos ambientais e defesa civil, e nem se sabe a real distância das paredes de uma mina para outra.
“Tem alguns dados do professor Abel Galindo que é estudioso da região tem colocado alguns dados, mas na verdade, a gente não sabe o conjunto de conectividade possível entre as minas e qual a sua relação uma com a outra, qual a profundidade. Se a profundidade é de 300 metros, se é de 1 quilômetro, ninguém sabe o tamanho do que tem embaixo”, explicou.
Hoje, com o afundamento da mina, o que poderia acontecer?
Segundo o professor, do ponto de vista urbanístico e do meio urbano, uma das hipóteses é um lago formado na região de Bebedouro e adjacências.
“Porque a mina afunda e a água da lagoa entra. Aí, dependendo se for uma mina profunda, se for tão profunda, pode gerar um lago, e vai ter algum sismo ali na região, vai ter um impacto. Como não sabemos a profundidade das minas, se for profundidade de quilômetros, se for muito fundo, podemos ter o escoamento nesse buraco ou trechos da lagoa em outros pontos que podem ter o efeito contrário e faltar água. Temos várias hipóteses.”
“Mas se for algo muito maior, e se por acaso esse afundamento fizer com que as paredes das outras minas venham a ser rompidas, inclusive há várias minas dentro da lagoa Mundaú, isso pode se tornar um problema maior”, completou.
Problema ambiental
O professor enfatiza que se essa água que entrar na lagoa pegar resquícios de material que estão dentro das minas de salgema, será ampliada a salinidade da Lagoa Mundaú e pode haver problemas ambientais. “Com isso, pode ocorrer mortes de peixes e impactar o mangue”, afirmou.
Dilson também disse que pode ser um problema que impactará uma área gigante na cidade, pois ampliará a área de risco.
“É um problema urbano que pode se ampliar para mais de 20% da cidade, pois hoje a região do Pinheiros e cinco bairros abrangem 7% da área diariamente impactada.”
Fonte – Cada Minuto