Presidente reforça discurso sobre política monetária, corte de gastos e regulamentação da reforma tributária

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a condução da política monetária pelo Banco Central (BC), classificando como “irresponsabilidade” as sucessivas elevações da taxa básica de juros, a Selic. As declarações foram feitas durante entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, no último domingo (15).
“A única coisa errada neste País é a taxa de juros, que está acima de 12%. Não há nenhuma explicação. É uma inflação totalmente controlada”, afirmou Lula.
“A irresponsabilidade é de quem aumenta a taxa de juros todo dia. Não é do governo federal. Mas nós vamos cuidar disso também.”, continuou.
As falas do presidente ocorrem após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidir, na última quarta-feira (11), aumentar a Selic de 11,25% para 12,25% ao ano, em decisão unânime. A alta acontece em um cenário de deterioração dos ativos brasileiros, com economistas prevendo uma elevação prolongada da taxa para conter o quadro econômico.
Um dos membros do Copom que votou pelo aumento foi Gabriel Galípolo, indicado por Lula como sucessor de Roberto Campos Neto na presidência do BC em 2025. Segundo análises, a piora do cenário pode levar a Selic a patamares superiores aos 13,75%, registrados no auge do mandato de Campos Neto.
Além das críticas ao Banco Central, Lula enviou um recado ao mercado financeiro, reiterando seu compromisso com a responsabilidade fiscal.
“Ninguém tem mais responsabilidade fiscal do que eu. Não é a primeira vez que sou presidente da República. […] Não é o mercado que tem que se preocupar com os gastos do governo. É o governo.”, afirmou.
Sobre o pacote de corte de gastos em discussão, o presidente lembrou que cabe ao Congresso Nacional decidir sobre o texto final.
“O pacote foi mandado para o Congresso Nacional, e o Congresso tem soberania para mudar as coisas. Se votar algo que eu possa mudar, eu posso mudar. Mas eu não vou poder mudar”, declarou.
Lula também anunciou que se reunirá com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, após exames médicos nesta quinta-feira (19), para debater a regulamentação da reforma tributária. A proposta, já aprovada no Senado, retornará à Câmara dos Deputados para avaliação final.
“Quando eu voltar, a partir de quinta-feira, vou conversar com as pessoas e ver o que a gente pode fazer. O que a gente não quer é aumento de tributo”, ressaltou.
Estado de saúde do presidente
Lula recebeu alta hospitalar neste domingo (15), mas permanecerá em São Paulo até a realização de novos exames, incluindo uma tomografia, marcada para quinta-feira. Caso não sejam detectados problemas, ele poderá retornar a Brasília.
Durante a entrevista, o médico Roberto Kalil destacou a gravidade da crise de saúde enfrentada pelo presidente.
“Foi uma situação extremamente grave. Ele corria o risco de acontecer o pior”, afirmou.
A primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, relatou que a situação foi um dos momentos mais difíceis de sua vida.
“Depois da noite em que minha mãe faleceu, aquela foi a pior noite para mim. Foram momentos angustiantes de não saber o que ia acontecer”, disse Janja, emocionada.
Nos próximos dias, Lula deve evitar exercícios físicos intensos e viagens internacionais, conforme orientação médica.
Com essa série de declarações, Lula reacende o debate sobre a política monetária e a condução econômica do País, ao mesmo tempo em que reforça o compromisso com pautas fiscais e a reforma tributária.