O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, está em uma posição delicada após perder temporariamente sua principal ferramenta de influência: as chamadas “emendas Pix”. Suspensas em 2022 pelo Supremo Tribunal Federal (STF) devido à falta de transparência, essas emendas permitiam transferências diretas de recursos a estados e municípios sem a necessidade de convênios ou prestação de contas detalhada.
Apesar de uma decisão posterior que condicionou os repasses a critérios de rastreabilidade, os pagamentos ainda não foram liberados pelo governo federal, deixando Lira sem a barganha financeira que sustentava seu capital político. “Não temos apoio nem da Câmara nem do Senado sem resolver o impasse do projeto votado e sancionado”, afirmou Lira, referindo-se às emendas e à falta de apoio para o pacote fiscal proposto pelo governo.
Em apelos recentes para aprovação de urgências legislativas, Lira usou a metáfora do “café frio”, comum em Brasília para descrever políticos que perderam prestígio. “Não é que meu café esteja frio, eu não tenho nem mais café para servir”, disse, ilustrando sua atual falta de poder para negociar.
As emendas Pix, oficialmente conhecidas como RP8 e RP9, foram declaradas inconstitucionais pelo STF em dezembro de 2022, após uma ação movida pelo PSOL. O partido argumentava que a modalidade permitia distribuição arbitrária de recursos públicos, sem rastreabilidade ou transparência.
Apesar da aprovação de uma resolução no Congresso para atender às exigências da Corte, o ministro Flávio Dino suspendeu os repasses temporariamente até que critérios claros fossem estabelecidos. Após negociações entre os três poderes, a suspensão foi encerrada, mas o governo ainda não liberou os valores, agravando o desgaste político de Lira.
Impactos na tramitação do pacote fiscal
A falta de acordo sobre as emendas tem paralisado a tramitação do pacote fiscal, considerado essencial para a estabilidade das contas públicas. Lira deixou claro que não indicará o relator das propostas enquanto a questão das emendas não for resolvida, aumentando a tensão entre Executivo e Legislativo.
A situação expõe as fragilidades do sistema político brasileiro, onde o capital financeiro desempenha um papel central nas negociações e no equilíbrio de forças entre os poderes. Enquanto isso, o debate sobre transparência e responsabilidade no uso de recursos públicos ganha ainda mais urgência.