A queda do jato Embraer no Cazaquistão, com 67 pessoas a bordo, levanta suspeitas de que a aeronave tenha sido atingida por um míssil ou drone russo. Evidências como a rota do voo, relatos de passageiros e análises da fuselagem apontam para a possibilidade de um ataque da defesa antiaérea russa.
As autoridades russas e azerbaijanas inicialmente tentaram atribuir a queda do avião a uma colisão com aves, mas essa versão foi rapidamente contestada por evidências em contrário.
A explicação inicial, que atribuía a queda a uma ‘explosão de um balão’ dentro da aeronave, foi rapidamente descartada como inverossímil.
A trajetória do voo, que inicialmente seguia a costa norte do Mar Cáspio e em seguida realizava uma curva para entrar no espaço aéreo russo, passando por regiões com histórico de instabilidade, levanta suspeitas sobre as causas do acidente.
De acordo com sites de monitoramento de voo, a rota da aeronave não sofreu alterações na última semana, sendo realizada em média em uma hora. Na manhã do acidente, havia registros de ataques de drones ucranianos em várias áreas da região, incluindo Inguchétia e Ossétia do Norte.
O aeroporto de Makhachkala, único na rota do voo, foi fechado nesta manhã devido à presença de drones. Os sites de monitoramento de voo registraram o desaparecimento da aeronave antes de atingir Grozni, e ela só foi localizada novamente do outro lado do mar Cáspio, em Aktau, no Cazaquistão.
Em Aktau, vídeos de moradores mostram a aeronave alternando entre descidas e subidas, com o trem de pouso acionado, indicando dificuldades de controle. No final, o avião aparentemente tenta realizar um pouso de emergência, mas acaba explodindo ao atingir o solo.
O que causou a mudança repentina na situação ainda é um mistério, mas um vídeo gravado por um passageiro dentro da aeronave oferece uma pista adicional. O vídeo mostra aparentes danos internos próximos aos bagageiros do E-190, com pelo menos dois sistemas de oxigênio ativados e máscaras penduradas. Além disso, um painel na parede da cabine também está danificado.
Relatos de sobreviventes indicam que o avião tentou realizar o pouso, possivelmente em Grozni, várias vezes antes de uma explosão ser ouvida do lado externo da aeronave. De acordo com a mídia russa, a administração do aeroporto tchetcheno afirmou que havia dificuldades durante a manobra de pouso devido a uma densa neblina.
No entanto, a evidência mais significativa surgiu após o desastre, com imagens de partes da fuselagem do avião, nas quais é possível observar furos compatíveis com estilhaços típicos de explosões de mísseis antiaéreos. A Folha de S.Paulo consultou dois analistas militares russos que analisaram as imagens e confirmaram essa avaliação.
Grozni é protegida, conforme analistas militares russos, por sistemas de curto alcance Pantsir-S1, projetados para combater drones. Esses sistemas disparam mísseis que não atingem diretamente o alvo, mas explodem a uma certa distância, criando uma nuvem de fragmentos para aumentar as chances de acerto.
Se isso realmente aconteceu, será necessário investigar se algum sistema antiaéreo russo estava em operação contra drones na região. Nesse cenário, o míssil pode ter atingido tanto um drone quanto o E-190, ou pode ter ocorrido um erro por parte dos operadores do sistema.
A autoridade de aviação do Azerbaijão iniciou uma investigação e suspendeu todos os voos no norte do Cáucaso até nova ordem.
O incidente, que ainda precisa ser investigado para deixar de ser uma especulação, remete, de forma distante, ao trágico caso do voo da Malaysia Airlines abatido sobre o leste da Ucrânia em 2014, que resultou na morte de 298 pessoas.
Naquele caso, uma investigação internacional concluiu que um míssil antiaéreo do sistema russo Buk atingiu o avião, provavelmente devido a um erro dos operadores. A bateria de mísseis estava localizada em uma área controlada pelos separatistas pró-Moscou, que, à época, iniciavam a guerra civil, um conflito que eventualmente culminou na invasão total da Ucrânia por Vladimir Putin em 2022.
Os russos negam qualquer responsabilidade pelo incidente e afirmam que o Boeing-777 foi derrubado por um míssil de Kiev, que também utilizava o mesmo sistema de mísseis.