O crime organizado tem expandido sua influência para além do tráfico de drogas e já exerce controle significativo sobre o mercado de combustíveis no Brasil. Diante desse cenário alarmante, a Polícia Federal (PF) abrirá um inquérito para investigar como facções criminosas estão se infiltrando em postos, refinarias e usinas de etanol. A decisão foi tomada após reunião do Núcleo Estratégico de Combate ao Crime Organizado, que reúne autoridades da segurança pública e representantes de órgãos de fiscalização.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, destacou a gravidade da situação e revelou que há informações sobre grupos criminosos assumindo o controle até mesmo de refinarias. Segundo ele, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), trouxe à discussão um dado preocupante: quatro usinas de etanol em recuperação judicial teriam sido adquiridas por organizações criminosas.
Setor de combustíveis sob domínio criminoso
Além do domínio sobre postos de combustíveis—estimado em 1.100 unidades controladas por facções—, há evidências de envolvimento de grupos como o Primeiro Comando da Capital (PCC) em fraudes, como adulteração de combustíveis e manipulação de preços. “Temos informações que também há refinarias e usinas de produção de etanol sendo controladas pelo crime organizado. Essa é a preocupação que o governador nos transmitiu”, afirmou Lewandowski.
Para enfrentar o problema, o governo federal criará um grupo de trabalho específico, com a participação de órgãos como a Receita Federal, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e o Ministério de Minas e Energia. A ideia é propor medidas regulatórias que dificultem a atuação dessas organizações no setor.
Cartéis e manipulação de preços
Outro ponto que preocupa as autoridades é a formação de cartéis que afetam diretamente o preço dos combustíveis. Segundo Lewandowski, o Cade já identificou a existência de grupos que manipulam os valores tanto para eliminar concorrência quanto para aumentar artificialmente os preços. “O Cade já identificou a possibilidade de cartéis, tanto de cartéis que diminuem os preços como aqueles que fazem subir os preços para eliminar a concorrência”, explicou o ministro.
Com a investigação da PF e a criação de novas estratégias de combate, o governo busca desmantelar essas redes criminosas e evitar que o setor de combustíveis continue sendo uma fonte de financiamento para o crime organizado.