Em meio às turbulências provocadas pela nova ofensiva tarifária dos Estados Unidos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou nesta terça-feira (8/4) que o verdadeiro alvo das medidas anunciadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, é a China — e não economias emergentes como o Brasil.
Durante participação em um evento promovido pelo Bradesco, em São Paulo, Haddad avaliou que o embate comercial vai além de questões econômicas e escancara uma disputa de poder global. “O problema é que nós não estamos falando de economia”, disse o ministro. “É de hegemonia. É outro o dicionário. Nós estamos discutindo hoje qual é o país que vai liderar a próxima etapa do desenvolvimento global.”
Para ele, os Estados Unidos miram diretamente o avanço econômico e militar chinês, considerado um desafio inédito à liderança americana. “Aí, os Estados Unidos não têm olhos para a América do Sul, nem para a Europa ou nem sequer para a Rússia”, afirmou Haddad. “Tem olhos para a China. O problema dos Estados Unidos é a China.”
Segundo o ministro, os EUA venceram a disputa da globalização com seus aliados, mas se deparam agora com um adversário de outra dimensão. “A Rússia era uma potência militar, o Japão, uma potência econômica, mas a China é a primeira vez que os EUA se deparam com um desafio que une as duas coisas.”
Impactos e riscos
Haddad alertou ainda para os efeitos imprevisíveis que o “movimento brusco” dos EUA pode gerar na economia mundial. Ele classificou as ações de Trump como um “solavanco” que compromete o crescimento global e os ganhos de produtividade.
O ministro também minimizou a possibilidade de que os EUA consigam, de uma hora para outra, substituir internamente os produtos que hoje importam em grande escala. “É fantasia imaginar que os EUA vão começar a produzir amanhã o que hoje importa”, provocou. “Você não vai mudar isso com tarifa.”
Brasil adota cautela
Diante do cenário de incerteza, Haddad defendeu que o Brasil mantenha sua postura tradicional de prudência diplomática. Para ele, este não é o momento de anunciar medidas precipitadas, mas sim de observar com cautela os desdobramentos.
Ainda assim, o ministro reconheceu que, nesse tabuleiro de tensões, o Brasil não é um dos alvos principais — o que pode, de certa forma, proteger o país dos piores efeitos da guerra comercial. “Relativamente, diante do incêndio, estamos mais perto da porta de saída do que os nossos pares”, afirmou Haddad.