Embora a ministra da Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, tenha afirmado que intensificará os controles na fronteira com o Brasil, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva não foi informado sobre os novos planos do governo de Javier Milei.
A CNN revelou que nem o governo brasileiro nem a Polícia Federal foram contatados por autoridades argentinas para comunicar novas medidas ou apresentar propostas de colaboração para os planos de segurança na fronteira entre os países.
Após anunciar a construção de uma cerca de 200 metros de extensão e 2,80 metros de altura na fronteira com a Bolívia, a ministra do governo de Milei declarou, nesta terça-feira (29), que vai intensificar os controles na fronteira com o Brasil.
Bullrich afirmou que “há um problema muito sério” nas cidades fronteiriças, onde é possível atravessar de um país para o outro a pé, mencionando especificamente Bernardo de Irigoyen, cidade da província argentina de Misiones, na fronteira com Dionísio Cerqueira (SC) e Barracão (PR).
Entre os problemas, a ministra de Milei citou “assassinatos por pistoleiros” e a diferença de valorização entre o peso argentino e o real brasileiro, que faz com que o fluxo de produtos levados de um país para outro seja grande.
“Estamos fortalecendo passo a passo as diferentes fronteiras (…) ocuparemos estes pontos e com esses pontos, podemos dizer que temos uma fronteira muito mais controlada”, destacou ela em entrevista a uma rádio argentina.
Autoridades de ambos os países, no entanto, afirmam não terem informações de um aumento da criminalidade na região da cidade mencionada por Bullrich, nem um aumento anormal do fluxo migratório que gere preocupação.
Uma fonte do governo argentino confirmou à CNN, no entanto, que um apoio das Forças Armadas do país em zonas fronteiriças está sendo avaliado, mas que ainda não há quaisquer definições sobre em quais locais nem a quantidade de militares que seriam enviados.
Questionada sobre a possibilidade de construir novas cercas, além da que será instalada na cidade de Aguas Blancas, no norte do país, que faz divisa com a cidade boliviana de Bermejo, Bullrich afirmou que o plano de segurança de fronteiras é avaliado a cada dia, com uma revisão mensal profunda, e não descartou medidas similares.
Membros do governo Lula consideram as declarações como “mais uma bravata” da administração de Milei e duvidam da viabilidade do plano, apontando, entre outros motivos, a possível falta de recursos para a construção da cerca.
Uma das dificuldades financeiras da Argentina, mencionadas por fontes do governo brasileiro, é o uso de placas de papel para veículos. Desde novembro de 2023, as identificações passaram a ser impressas em papel pela Casa da Moeda devido à dificuldade de adquirir dólares para importar a matéria-prima das placas de metal.
Autoridades do governo de Milei chegaram a solicitar ajuda ao Brasil para permitir a entrada de argentinos dirigindo carros com placas de papel. Fontes do Palácio do Planalto também destacam que o alto custo de vida na Argentina tem feito com que brasileiros que antes residiam no país vizinho retornem ao Brasil, e não o contrário.
O simples fato de a discussão estar ocorrendo já gera preocupação no Planalto, que vê com preocupação a possibilidade de a onda anti-imigratória de Donald Trump e de países europeus chegar à América Latina. De acordo com membros do governo, não haverá mudanças na política brasileira, que continuará a acolher imigrantes.