O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria rejeitado um pedido do general da reserva Mario Fernandes, ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, para substituir o ministro da Defesa em novembro de 2022. A revelação consta em relatório da Polícia Federal (PF) que embasou a Operação Contragolpe, investigação que revelou um suposto plano de ataque a autoridades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo transcrição da PF, Fernandes teria sugerido a Bolsonaro o retorno do general Walter Braga Netto ao comando da Defesa. Braga Netto, que havia sido companheiro de chapa de Bolsonaro nas eleições de 2022, ocupou o cargo de ministro da Defesa entre março de 2021 e abril de 2022 e foi ministro-chefe da Casa Civil entre 2020 e 2021.
“Vão alegar que estou mudando para dar um golpe”
Em conversa com Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro e coronel do Exército, Fernandes relatou o diálogo com o então presidente. Segundo a transcrição:
> Mario Fernandes: “Porra, eu tava pensando aqui, sugeri ao presidente até, porra, ele pensar em mudar de novo o MD [ministro da Defesa], porra. Bota de novo o General Braga Netto lá. General Braga Netto tá indignado, porra, ele vai ter um apoio mais efetivo.”
Mario Fernandes: “Ah, não, porra, aí vão alegar que eu tô mudando isso pra dar um golpe’ [teria dito Bolsonaro]. Porra, negão. Qualquer solução […] tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, né, sem quebrar cristais.”
A investigação aponta que o retorno de Braga Netto ao Ministério da Defesa seria parte de um suposto plano para consolidar um golpe de Estado. A PF identificou a minuta de criação de um “Gabinete de Gestão de Crise”, que teria como líderes Braga Netto e o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional.
O documento, que teria sido impresso no Palácio do Planalto, previa que o gabinete seria composto majoritariamente por militares e teria como objetivo “gerenciar a crise institucional” após a execução do golpe.
Entre os civis, o ex-assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, seria responsável pelas relações institucionais.
Mario Fernandes foi preso pela PF na terça-feira (19) no âmbito da Operação Contragolpe. As investigações avançam para apurar o alcance do suposto plano e a participação de outros envolvidos no caso.
Até o momento, a defesa de Bolsonaro e dos citados no relatório não se pronunciou sobre as acusações. O ex-presidente já negou, em outras ocasiões, qualquer envolvimento em ações que buscassem desestabilizar o processo democrático brasileiro.