O general Braga Netto se opôs a um “acordo de paz” que havia sido negociado entre Bolsonaro e Alexandre de Moraes. Em novembro de 2022, após as eleições, o então presidente teve uma reunião reservada com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
O encontro, realizado fora da agenda oficial em uma residência no Lago Sul de Brasília, tinha como propósito suavizar a relação entre políticos e militantes de direita e o Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro solicitou que Moraes recuasse em determinados pontos, especialmente no que diz respeito aos inquéritos em andamento na Corte. Em contrapartida, o ministro queria que o presidente tomasse atitudes para diminuir a tensão dos manifestantes que, nas portas dos quartéis, contestavam o resultado das eleições e pediam intervenção.
A conversa concluiu com um aperto de mão entre os dois. No entanto, dias depois, Bolsonaro foi persuadido a não seguir com os termos acordados. Liderada pelo general Braga Netto, então vice na chapa presidencial, a ala militar do Planalto se opôs ao “acordo de paz” com Alexandre de Moraes.
Bolsonaro se viu, então, no centro de um conflito interno, com seus aliados divididos em lados opostos. Políticos como Ciro Nogueira (PP) e Rogério Marinho (PL), atualmente líder da oposição no Senado, defendiam uma posição. Por outro lado, militares como Braga Netto e Augusto Heleno se opunham, rejeitando tanto o reconhecimento da vitória de Lula quanto qualquer aproximação com Moraes.
A Polícia Federal (PF) aponta que, em novembro de 2022, Braga Netto iniciou articulações com o objetivo de atacar Alexandre de Moraes e impedir a transição de poder. A investigação menciona um vídeo em que o general afirmou precisar de “tempo” para atender ao pedido dos “patriotas” que exigiam intervenção.
Militares do Planalto que se opunham ao armistício com Alexandre de Moraes alegaram que o magistrado não era “confiável”, supostamente por ter descumprido um acordo firmado em 9 de setembro de 2021. Naquele momento, o então presidente divulgou uma carta conciliatória dois dias após chamar o ministro do STF de “canalha” em um ato bolsonarista que lotou a Esplanada dos Ministérios.
A carta conciliatória foi divulgada apenas depois de uma conversa telefônica entre Bolsonaro e Moraes. Durante a ligação, Moraes teria concordado em revogar o pedido de prisão do manifestante e hoje deputado Zé Trovão, além de reconsiderar as multas aplicadas a caminhoneiros que bloquearam estradas. Também teria concordado em arquivar o “inquérito do fim do mundo”, que investigava bolsonaristas por disseminação de fake news e atos antidemocráticos.
Militares do Planalto protestaram alegando que as solicitações anteriores nunca haviam sido atendidas. Por isso, defendiam que qualquer novo gesto em direção a Moraes deveria ser descartado.
Militares que atuavam com Bolsonaro também consideraram que ele “errou” ao acatar a decisão de Moraes que impediu a nomeação de Ramagem para chefiar a Polícia Federal (PF). Esses militares argumentaram que o então presidente deveria ter mantido a nomeação, alegando que a ordem de Alexandre era “inconstitucional”.
Essa ala sugeriu a Bolsonaro que “seguísse o exemplo” de Renan Calheiros (MDB), que em 2016 se recusou a receber a notificação do Supremo para deixar a presidência do Senado. O emedebista afirmou que só renunciaria ao comando do Congresso caso a determinação do ministro Marco Aurélio Mello fosse confirmada pelo plenário do STF.
Ao acatar a determinação, segundo esses militares, Bolsonaro teria aberto precedentes para que a Corte tomasse novas decisões que envolvessem o Poder Executivo. No que diz respeito à relação com o STF, o presidente conseguiu, de certa forma, desagradar tanto os aliados da ala “legalista” quanto os militares do Planalto.