Nessa sexta-feira, o professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Luiz Côrtes, esteve no CNN Prime Time, programa da CNN Brasil, para explicar sobre o funcionamento da mina 18 da Braskem, que pode colapsar a qualquer momento em Maceió.
De acordo com ilustração disponível no próprio site da Braskem, a profundidade da mina 18 chega a 1.200m de profundidade, o que equivale a 40 prédios de 10 andares empilhados um em cima do outro. A área afetada já afundou 2 metros em apenas 3 dias.
O professor do IEE explicou como funciona a mina 18. “O que acontece é que a água é injetada à alta pressão. O minério, esse sal que, na prática, é como se fosse sal de cozinha, então ele é facilmente solúvel em água. Então à medida em que a água é injetada, ela dissolve esse sal e depois ela é recuperada por outro lado, e processada industrialmente para a retirada do cloreto de sódio: o sódio usado para o soda cáustica e o cloro utilizado para a fabricação do PVC. Na prática, estão sendo construídas cavernas artificiais à medida em que esse sal vai sendo retirado e a espessura de rochas é muito grande, então não há sustentação”.
Pedro Côrtes disse ainda que, quando há mineração subterrânea, é preciso ter todo um cuidado com obras de contenção, mas que nem sempre é o suficiente para evitar o colapso das minas subterrâneas. No caso da mina da Braskem, não há nenhuma obra de contenção e nada foi injetado no buraco para preencher o espaço onde havia sal. “A alegação é de que a água remanescente seria suficiente para fazer essa contenção, mas isso não acontece. A água não tem essa capacidade e por isso várias áreas entram em colapso”, completou.
A Defesa Civil de Alagoas afirmou que não há como evitar o colapso da mina 18 da Braskem, de maneira que a água da Lagoa Mundaú irá entrar na mina. Sobre os riscos, além do social, Pedro Côrtes citou o ambiental. “O risco ambiental existe pra Lagoa na medida em que essa água entrar em contato com camadas de sal ainda remanescentes, então pode aumentar a salinidade da lagoa, o que pode causar prejuízo à flora e fauna”.
Segundo o professor Pedro Côrtes, não existe forma segura de fazer esse tipo de exploração em área urbana. “Na verdade, desde que a mina foi autorizada, em 1976, dentro de uma controvérsia, porque o órgão ambiental do estado não recomendava isso, já se considerava esse tipo de possibilidade porque se trata de uma área urbana, então haveria colapso. Além disso, não foram respeitadas as normas técnicas de distanciamento desses poços”, explicou.
A mina 18 da Braskem conta com dezenas de poços e alguns muito próximos um do outro. Ao longo dos quase 50 anos, foi realizada uma lavagem da camada de sal, que foi retirada sem que houvesse capacidade de sustentação numa área com mais de 900m de rocha, enquanto a água foi dissolvendo o sal remanescente, contribuindo para a perca da sustentação do solo. “As camadas acabam cedendo pelo próprio peso delas, inclusive porque são todas rochas sedimentares, são rochas mais frágeis. Se fosse um granito, por exemplo, talvez tivesse a capacidade de se autoconter”, completou o professor.
De acordo com a Defesa Civil, com o colapso eminente, a primeira cratera teria em torno de 50m de diâmetro, mas as outras minas podem se conectar e, com o primeiro colapso, gere um colapso em cadeia de perfurações ao redor. “É, obviamente, aguardado as devidas proporções, mas essa é a nossa Chernobyl: uma área grande de exclusão, onde as pessoas não vão poder voltar, afetando diversas famílias e considerado hoje o maior desastre ambiental em ambiente urbano”, comentou Côrtes.
Pedro Côrtes afirmou ainda que, aqui no Brasil, não tem conhecimento de outras áreas em ambiente urbano que tenham minas operando da forma como a Braskem. O professor também explicou que, ao longo dos anos, pode haver uma situação de estabilidade, embora não seja fácil precisar quanto tempo isso pode levar. “Pode ser que demore anos para que toda a região, uma vez monitorada, ela seja considerada estável e aí possibilite o retorno das pessoas. Numa situação dessas, as pessoas já reconstruíram suas vidas em outras áreas, então essa área acaba ficando uma área deserta e aí caberá ao poder público decidir o que vai ser feito”, finalizou.