O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta quinta-feira que o ex-presidente Jair Bolsonaro “inventou” ser evangélico. A afirmação ocorre em meio a uma semana em que Lula buscou se aproximar do segmento religioso, majoritariamente favorável ao bolsonarismo.
Durante um comício em Camaçari, Lula disse que Bolsonaro “não acredita em Deus” porque suas atitudes não são as de alguém com fé religiosa. O candidato à prefeitura local, Luiz Caetano, tem como vice uma pastora.
— A gente não pode cometer o erro de 2018, quando ao invés de votar no companheiro com a qualidade do Haddad, votou numa coisa, votou numa coisa que ninguém conhecia a não ser por contar mentira e pregar o ódio. Inventou ate que é evangélico. Ele não acredita em Deus e não acredita em Deus porque o comportamento dele é de quem não acredita — afirmou Lula.
Mais adiante, o presidente disse que não tem receio de declarar sua posição política, afirmando que “ninguém foi mais de esquerda do que Jesus Cristo”.
— Eu fico muito orgulhoso de ver o Caetano arrumar uma vice, uma mulher negra, uma pastora, é ainda mais extraordinário do que essa união de dois partidos de esquerda. A gente não tem medo de dizer que a gente é de esquerda porque ninguém foi mais de esquerda do que Jesus Cristo. Ninguém. Ninguém. Ninguém brigou mais pelo pobres do que Jesus Cristo. É exatamente por brigar pelos pobres, de cuidar dos doentes, de atender aos mais necessitados que os ricos da época mandaram crucificar Jesus Cristo, e não podemos esquecer isso
Ao longo desta semana, Lula também sancionou a lei que institui o Dia da Música Gospel, ao lado do deputado federal Otoni de Paula, um aliado de Bolsonaro que tem vínculos com os evangélicos.
Após orar por Lula e elogiá-lo em um evento no Planalto, Otoni de Paula foi acusado de traição política por líderes religiosos, incluindo o pastor Silas Malafaia, fundador da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, um dos que mais criticaram o parlamentar. Otoni, no entanto, se defende dizendo que estava cumprindo seu papel institucional.
Na cerimônia com Lula, uma declaração do deputado gerou forte repercussão entre os evangélicos — quando ele agradeceu ao presidente por sancionar, em 2003, a Lei de Liberdade Religiosa.
— As igrejas e organizações religiosas passaram, graças ao senhor, ao sancionar aquela lei, a ter personalidade jurídica, fazendo correções jurídicas no Código Civil, permitindo que as igrejas deixassem de ser simples personalidades, como entidade de classe ou clubes de futebol. Assim, cada igreja passou a ter direito de fazer valer o seu próprio estatuto — afirmou Otoni.
Depois disso, Lula provocou o parlamentar ao destacar as realizações de sua gestão.
— O deputado foi lá e fez uma declaração dizendo que não votou em mim, que muitos evangélicos não votaram em mim, mas que reconhece que tudo para os evangélicos foi feito por mim. Deu vontade de perguntar: se você reconhece isso, por que votou no Bolsonaro? — disse Lula em entrevista na Bahia nesta quinta-feira.