Em mais um foco de tensão entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Arthur Lira (PP-AL), a disputa eleitoral em Alagoas no ano que vem deve colocar os presidentes da República e da Câmara dos Deputados em lados opostos. Rival de Lira e importante aliado de Lula, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) vem intensificando os trabalhos para ampliar seu poder no estado nas eleições municipais de 2024 e frear o crescimento do deputado.
No ano passado, Lula e Lira subiram em palanques adversários em Alagoas. O petista apoiou o vencedor da disputa para o governo do estado, Paulo Dantas (MDB), que é do grupo político da família Calheiros. Já o presidente da Câmara fez campanha para Jair Bolsonaro (PL) e, no plano estadual, apoiou Rodrigo Cunha (União).
Lula tem em Calheiros um importante aliado no Senado e, ao mesmo tempo, busca se aproximar de Lira, figura central para garantir a governabilidade de seu mandato. Por isso, a disputa estadual no ano que vem entre as duas principais forças políticas alagoanas deve gerar uma saia-justa para o governo Lula.
Apesar de ter contado com o apoio do PT para se reeleger para a presidência da Câmara, Lira não tem, até agora, nenhum aliado na Esplanada dos Ministérios. Enquanto isso, viu seu inimigo emplacar o filho e senador eleito, Renan Filho, na pasta dos Transportes. O líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), que é próximo de Lira, foi preterido para a pasta da Integração. Há uma articulação, no entanto, para que o deputado Celso Sabino (União-PA), também aliado do presidente da Câmara, assuma o Ministério do Turismo.
Filiação de prefeitos
De olho em manter sua hegemonia local, Renan largou na frente acelerando os trabalhos para ampliar sua influência ao atrair prefeitos do estado para sua base. Apenas neste ano, ele filiou pelo menos 12 novos prefeitos no MDB. Destes, três vieram do PP de Lira.
Agora, dos 102 municípios alagoanos, 66 já são governados pelo partido de Renan. A meta, segundo o diretório estadual, que é presidido por ele, é chegar a 80. Para atrair os prefeitos, ele conta com a atuação direta do chefe do Executivo estadual, Paulo Dantas.
Lira, por outro lado, tem influência na capital, Maceió, que é governada por seu aliado João Henrique Caldas (PL), o JHC. Ele deve buscar a reeleição em 2024. Maceió é a única capital do Nordeste em que Bolsonaro teve a maioria dos votos nas últimas eleições. Esse fato deve entrar no cálculo político de Renan, que ainda estuda o nome que irá lançar para fazer frente ao adversário.
Na segunda maior cidade de Alagoas, Arapiraca, o prefeito Luciano Barbosa (MDB) vive com um pé em cada canoa. Historicamente ligado aos Calheiros, ele foi vice de Renan Filho no governo do estado. Porém, rompeu com o clã e se aproximou de Lira. Seu filho, Daniel Barbosa, se elegeu deputado federal pelo PP. Recentemente, no entanto, Barbosa vem ensaiando uma reaproximação com os antigos aliados. Na posse de Renan Filho como ministro, por exemplo, seu filho marcou presença e ambos posaram juntos para fotos.
Troca de farpas
Nas viagens que faz ao seu reduto, Renan vem elevando o tom nos ataques a Lira. No fim do mês passado, durante a entrega de uma creche do governo estadual na cidade de Rio Largo, que é administrada por um correligionário do presidente da Câmara, ele defendeu que o parlamentar fosse investigado pelo uso de verbas do orçamento secreto.
— Eu não sei, sinceramente, o que tem acontecido com Rio Largo. Só sei que, quando o Arthur Lira tinha o orçamento secreto, ele se beneficiou diretamente e usou muitas prefeituras, infelizmente, para lavar dinheiro. Isso tudo precisa ser investigado exemplarmente —discursou Renan.
Recentemente, ao rebater o emedebista em outro bate-boca, Lira afirmou que o problema do senador seria “psiquiátrico”. Seu mandato como presidente da Câmara vai até 2024, o que aumenta a importância das próximas eleições para Lira ampliar o capital político em seu estado natal e garantir a força necessária para voos futuros.
Um dos cenários possíveis é o primeiro embate eleitoral direto entre Renan e Lira na disputa pelo Senado em 2026. Vão ser duas vagas em jogo.
Fonte – O Globo