Os irmãos Joesley e Wesley Batista continuam mantendo excelentes (para eles) relações com Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A generosidade dos empresários com a turma do PT continua sendo muito bem retribuída.
Mais um capítulo dessa novela bem ao estilo “!Vale a pena ver de novo” é revelado pela jornalista Andreza Matais, em sua coluna:
“Técnicos do Ministério de Minas e Energia estudam uma forma de livrar uma empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista de uma multa de R$ 1 bilhão.
A coluna apurou que, a pedido do ministro Alexandre Silveira, a pasta busca construir um acordo com a Âmbar Energia, braço do grupo J&F, para que a empresa não seja obrigada a pagar integralmente a multa bilionária por não entregar energia comprada de forma emergencial ainda no governo Jair Bolsonaro (PL).
Em abril, o TCU (Tribunal de Contas da União) se posicionou por unanimidade pelo arquivamento do processo que tentava um acordo, mas o ministério tem autonomia para fazê-lo independentemente da posição da Corte de Contas.
Como o TCU não fez o acordo, restou para a empresa pagar a totalidade da multa ou recorrer à Justiça, o que arrastaria o caso por anos. O ministério decidiu, contudo, retomar as conversas. As tratativas em torno do assunto são feitas no governo de forma discreta para evitar polêmica por envolver os irmãos Batista.
Se concretizada, será a quarta medida em sequência do governo Lula para beneficiar os empresários que tiveram protagonismo nos dois primeiros governos do petista e estavam fora dos holofotes desde a prisão pela Operação Lava Jato por acusações que envolveram ganhos ilegais no mercado financeiro e pagamento de propina.
Com Lula de volta, os irmãos Batista já conseguiram:
Autorização do Ministério da Educação para o Instituto J&F abrir uma universidade;
Medida provisória que incrementa o caixa da concessionária Amazonas Energia permitindo que ela pague dívidas com termelétricas recém compradas pela Âmbar, como revelou a colunista Malu Gaspar no jornal O Globo;
Convite do presidente Lula (PT) para ingressar no Conselhão, grupo que reúne empresários com carta branca para aconselhar o governo.
Contrato emergencial
O caso relativo à multa bilionária trata do descumprimento de contrato emergencial realizado em 2021, que previa a construção de quatro usinas termelétricas para fornecer energia diante da crise hídrica que afetou o país em 2020 e 2021, segundo informações do site do TCU.
A Âmbar não cumpriu o prazo determinado para instalação e funcionamento das usinas, o que levou a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) a multar a empresa em R$ 1 bilhão.
O Ministério de Minas e Energia acionou o TCU para que decidissem juntos o que fazer sobre os descumprimentos dos contratos emergenciais.
Entre os termos propostos pela Âmbar para um possível acordo, estava a substituição do fornecimento de energia das quatro usinas pela geração em uma outra instalação, também de propriedade da Âmbar, localizada em Cuiabá (MT).
A Corte não chegou, contudo, a uma solução sobre o caso da Âmbar e, consequentemente, sobre a multa bilionária.
Os ministros do TCU votaram em peso pelo arquivamento do processo seguindo o entendimento de que o aval só é dado quando há consenso entre os técnicos da Câmara de Solução Consensual.
O colegiado – formado por técnicos do TCU – posicionou-se após ouvir todas as partes envolvidas (empresa, governo e agência reguladora). O relator, ministro Benjamin Zymler, indicou na ocasião que o resultado não impedia o ministério de buscar um acordo diretamente com a empresa.
Os ministros poderiam ter avalizado o acordo, apesar da posição da área técnica. Porém, segundo dois ministros do TCU ouvidos pela coluna, eles avaliaram que tudo o que envolve as três letras (J&F) ganha enorme repercussão e que a decisão teve como objetivo deixar a polêmica para o governo.
Seis empresas participaram do leilão (BTG, Âmbar, KPS, Tradener, Rovema e Fênix). Da lista, apenas a KPS é estrangeira, com sede na Turquia, país governado por Recep Erdogan, ditador e amigo de Bolsonaro.
Nenhuma das empresas entregou o combinado no prazo, e todas foram multadas pela Aneel em valores de até R$ 1,2 bilhão. A maioria já obteve o aval do TCU para manter os contratos em outros termos e reduzir o valor das multas.
Como mostrou a coluna, o BTG foi representado pelo advogado Marcus Vinicius Furtado Coelho, ex-presidente da OAB nacional. O advogado foi um dos maiores doadores da campanha do ministro Alexandre Silveira ao Senado em 2022. Depositou R$ 100 mil.
Nas contas do TCU, o acordo com o BTG reduzirá a tarifa emergencial, podendo significar uma economia estimada em R$ 224 milhões até 2025.
À coluna, Coelho afirmou que trabalha nesse caso para o BTG há três anos, portanto, antes de Silveira assumir o ministério. Sobre a doação de campanha, disse que fez o mesmo com outros candidatos que lhe pediram. No total, Coelho repassou recursos para cinco candidatos.
Procurada, a Âmbar não se manifestou até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.
O Ministério de Minas e Energia disse que não irá comentar.”
Por Flávio Gomes de Barros