A proliferação acelerada das chamadas "fake news" é um mal que atinge todos os segmentos, mas é no ano eleitoral que a desinformação se intensifica e prejudica o debate democrático. Os números impressionam: enquanto o Tribunal Superior Eleitoral chega a receber mais de 500 denúncias diárias, o número de brasileiros no WhatsApp bate recorde, com presença do aplicativo em 99% dos smartphones.
A combinação entre a alta produção de notícias falsas e o uso massivo de redes sociais por brasileiros, liga um sinal de alerta para a sociedade. É o que explicam as pesquisadoras Margareth Vetis e Simone Guerra, em pesquisa publicada no periódico científico de Direito Eleitoral e Sistema Político, do TSE.
“A divulgação de notícias nas redes sociais se dá em círculos, formados pelos vínculos entre as pessoas, que no início são mais próximos, como os formados por familiares, amigos, vizinhos, e depois se expandem para amigos mais distantes, até que seja quase impossível rastrear qual foi a origem daquela mensagem. Este modelo de uso de rede social, quando utilizado para marketing eleitoral, substitui o ‘corpo-a-corpo’ que era o modelo mais comum de difusão de plataformas eleitorais”, dizem as pesquisadoras.
Com a facilidade de compartilhamento em alguns segundos, com poucos cliques, as fake news são disseminadas de maneira rápida, muitas vezes por pessoas que não têm consciência que estão compartilhando informação falsa. Às vítimas a possibilidade de registrar um Boletim de Ocorrência em uma delegacia colabora para as investigações e o combate, mas não sana os problemas causados pela Fake News.
Em janeiro deste ano, um caso chamou atenção no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) que emitiu uma ordem judicial contra a Meta, empresa proprietária do WhatsApp, Instagram, Facebook e Messenger. A ação tinha o objetivo de interromper a circulação de um áudio falso associado ao pré-candidato à prefeitura de Maringa, Silvio Barros (PP/PR). No áudio, que imita a voz de Barros, o candidato supostamente anuncia a desistência da candidatura e apoia um adversário político.
O episódio não é isolado. Em Maceió, uma fake news circulou recentemente envolvendo o deputado federal Rafael Brito (MDB/AL). A falsa notícia dizia que estava acontecendo uma operação intitulada “capa dura” para investigar a compra de livros didáticos no período em que Rafael Brito foi secretário de Educação de Alagoas. À época uma ação foi movida contra os sites que veicularam a falsa informação.
Para o deputado federal Rafael Brito (MDB/AL), o problema deve ser enfrentado com informação. “Infelizmente pessoas maldosas criam essas mentiras e cidadãos mal informados caem nessa armadilha. A nós, além de notificar as autoridades responsáveis, cabe informar a população sobre como identificar uma fake news e alertar sobre a necessidade de checar uma informação antes de sair enviando para outras pessoas. Esse é um compromisso social de todos e deve ser levado a sério”, disse.
Casos semelhantes envolvendo fake news e o uso de Inteligência Artificial estão sendo investigados em estados como Amazonas, Rio Grande do Sul e Sergipe.
Problema mundial
O poder do impacto das fake news ficou evidente em um caso que se tornou motivo de uma série de estudos sobre o fenômeno. Em 2017, imagens falsas do povo mulçumano rohingya foram compartilhadas para acusá-los de serem violentos. Na época, o primeiro-ministro turco Mehmet Simsek chegou a compartilhar as fotos no Twitter, a fake news se alastrou e uma onda de violência se iniciou. Em meio aos caos, mais de 600 mil rohingya deixaram Mianmar e buscaram refúgio em Bangladesh. O primeiro-ministro se desculpou e a ONU afirmou que se tratava de um violento processo de limpeza étnica.
De 2017 para cá muitos avanços aconteceram para combater as fake news, no Brasil uma iniciativa do TSE chamada Minuto Checagem apura notícias e compartilha informações sobre notícias falsas relacionadas aos processos eleitorais. O TSE também elenca em seu site algumas formas de se precaver contra as fake news, como ficar atento ao endereço eletrônico em que a notícia foi compartilhada, checando se é um site conhecido; ler outras notícias no mesmo site e avaliar a veracidade; ler com atenção e ficar atento aos erros de ortografia; checar a data de publicação da reportagem; ver se o texto tem autoria e confirmar a notícia em outros sites, priorizando sites de notícia reconhecidos.