A desigualdade salarial entre homens e mulheres voltou a crescer em Alagoas. O dado mais recente do 3º Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, divulgado pelo Governo Federal, mostra que a defasagem de renda entre os gêneros no estado subiu 0,39% desde a última medição, em setembro de 2024. Agora, elas ganham 11,08% a menos que eles.
Não se trata de um detalhe estatístico: é um sinal claro de que a equidade de gênero ainda está longe de se tornar realidade no mundo do trabalho. Em valores, a média salarial das mulheres alagoanas é de R$ 2.366,03, enquanto os homens recebem R$ 2.660,79.
No plano nacional, a situação também piorou. A diferença chega a 20,87% e aumentou 0,18% no período.
Mulheres negras na base da pirâmide
Se ser mulher já significa ganhar menos, ser mulher negra agrava ainda mais o cenário. Em Alagoas, elas recebem R$ 2.187,23 — R$ 651 a menos do que mulheres não negras, que têm média de R$ 2.838,72. A diferença é de 22,9%.
No Brasil, a disparidade racial entre mulheres também é chocante: mulheres negras ganham em média R$ 2.864,39, contra R$ 4.661,06 das mulheres não negras — uma diferença de 38%.
Mais presença, salários ainda desiguais
Um dado que merece atenção: cresceu o número de mulheres negras no mercado de trabalho. São 3,8 milhões em 2024, contra 3,2 milhões no ano anterior — uma alta de 18,2%. Também houve uma leve redução no número de empresas com menos de 10% de mulheres negras entre os empregados.
Além disso, mais estabelecimentos estão conseguindo manter uma diferença salarial de até 5% entre homens e mulheres. Mas os avanços, embora positivos, ainda são insuficientes para mudar o quadro geral.
Mesmo com diploma, elas seguem ganhando menos
A desigualdade também resiste nos cargos de liderança e em profissões mais qualificadas. Mulheres que ocupam postos de diretoria e gerência recebem apenas 73,2% do salário dos homens. Nas ocupações de nível superior, esse índice cai para 68,5%. E até nas funções administrativas, a diferença persiste: elas ganham 79,8% do que eles ganham.
Mais mulheres trabalhando, menos renda acumulada
A presença feminina no mercado de trabalho aumentou: de 38,8 milhões em 2015 para 44,8 milhões em 2024. Mas isso não se reflete diretamente em maior participação na massa salarial do país. Em quase 10 anos, essa fatia cresceu apenas 1,7 ponto percentual — de 35,7% para 37,4%.
“Essa relativa estabilidade decorre das remunerações menores das mulheres, uma vez que o número delas no mercado de trabalho é crescente”, afirmou Paula Montagner, subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego.
Alagoas entre os ‘menos desiguais’ — mas ainda desigual
No ranking dos estados, Alagoas aparece com uma das menores diferenças salariais entre homens e mulheres, ao lado de Pernambuco, Acre, Distrito Federal, Piauí e Ceará. Ainda assim, a distância de 11,08% segue sendo um retrato da desigualdade estrutural.