O trabalho desenvolvido pelos feirantes foi tema do artigo semanal do deputado federal Daniel Barbosa (PP). O parlamentar deu destaque aos profissionais, que são engrenagens fundamentais na máquina da economia, principalmente nas cidades do interior de Alagoas.
Para Daniel Barbosa, o reconhecimento do feirante e do agricultor familiar para o desenvolvimento social, cultural e econômico é um dever de justiça. No artigo, o deputado reafirmou seu compromisso com o fortalecimento da categoria e com investimentos para a agricultura familiar.
Confira o texto na íntegra:
AOS FEIRANTES, TODAS AS HOMENAGENS
Feira vem do latim tardio feria e significa dia de festa, época em que animais, pratos culinários, roupas e outros objetos eram levados como oferendas às divindades. Tinha um sentido litúrgico. Ao longo do tempo, porém, nas datas festivas religiosas se tornou costume a exposição e venda de mercadorias pelos comerciantes em praça pública e a palavra passou a designar o comércio, perdendo o seu significado original.
Trata-se de atividade antiga e muito importante economicamente. Há registros históricos indicando que o modelo de feira livre semelhante ao atual remonta ao Século XI, muito embora o comércio de rua corresponda ao surgimento das cidades.
Foram os portugueses que trouxeram esse tipo de comércio para o Brasil, por volta do Século XVI. Entretanto, a primeira feira livre no país aconteceu em 25 de agosto de 1914, no Largo General Osório, na cidade de São Paulo. Até então, os antigos mercados francos aconteciam de forma irregular e desorganizada.
Por isso, na data de 25 de agosto se comemora o Dia do Feirante, para homenagear esses trabalhadores de sol a sol, que têm uma rotina de luta, dão exemplo de vitalidade e são amáveis no contato com os consumidores. Conquistam seus fregueses com simpatia, boa qualidade dos produtos e bons preços. Por suas reconhecidas qualidades, o feirante é motivo de orgulho para o Brasil. Tenho o mais sincero e intenso respeito por este profissional.
Nunca é demais lembrar a importância das feiras livres no cotidiano brasileiro. Elas não se restringem a um espaço de comercialização, montado de forma singela em barracas e bancadas. Se bem observarmos veremos que vão além, cumprindo significativo papel social, econômico, ambiental e cultural, como acontece nas cidades nordestinas, onde também são preservadas as identidades regionais.
As feiras livres sobrevivem com um ar mais humano, num ambiente de participação social, distanciadas do universo insensível das atividades econômicas modernas, constituídas de indústrias, shopping centers, supermercados, grandes lojas de departamentos, negócios pela internet etc.
A contribuição do comércio de rua, estruturado em feiras, para a economia local é evidente, porque suprem, com qualidade, a demanda de alimentos, além de gerar emprego e renda no campo. Nelas encontramos hortifrutigranjeiros e uma variedade enorme de produtos alimentícios, flores, roupas e utilidades diversas para o dia a dia da comunidade. Também eliminam a figura do atravessador e produzem impactos econômicos e sociais importantes para a agricultura rural familiar.
Há mais de uma centena de feiras livres nos 102 municípios de Alagoas, onde trabalham cerca de doze mil vendedores e mais de um milhão de pessoas circulam semanalmente, se consolidando como fonte permanente de criação de empregos, renda, ocupação e impostos. Nesse contexto, Arapiraca se destaca como a primeira cidade a regulamentar a Lei de Funcionamento das Feiras Livres e, em parceria com o Sebrae, investiu em capacitação, consultoria e inovação.
Arapiraca rima com feira livre, afinal de contas a cidade se estabeleceu em redor dessa atividade mercantil. O genial músico alagoano, Hermeto Pascoal, afirmou em entrevista que muitas das coisas que faz são inspiradas nas experiências que vivenciou na feira de Arapiraca, que certamente ficaram gravadas no seu coração e o acompanham pelo mundo afora, sempre engrandecendo o nome do nosso país.
Há registros de que a tradicional Feira Livre de Arapiraca, desde quando era um simples povoado, despontava como manifestação cultural do Agreste de Alagoas. Esse movimento comercial progrediu e durante trinta anos, entre 1960 e 1990, a cidade ficou conhecida por desfrutar do maior centro comercial ao ar livre do Brasil. Todas as semanas, centenas de pessoas se deslocavam dos municípios alagoanos, pernambucanos e sergipanos para a feira livre arapiraquense. Ainda hoje é assim, numa demonstração de força, dignidade e visão de negócios do feirante. Tem vida; tem alegria; tem sanfoneiros, emboladores e repentistas. É, na essência, uma genuína festa nordestina.
As feiras livres são verdadeiros polos de celebração cultural e socialização. Nelas, as pessoas trocam conhecimentos, se divertem, constroem amizades, respeitam as diferenças, aprendem a proteger o meio ambiente e fortalecem a comunidade local. Feira é fonte de trabalho, de renda, de lazer e de sabedoria.
Com o passar do tempo, as mulheres foram exercendo forte protagonismo nesse ambiente e, cada vez mais, desempenham competente e decisivo papel no planejamento, organização e execução do processo de produção e venda. Outro aspecto fundamental das feiras livres é a comercialização dos produtos oriundos da agricultura familiar, de excelente qualidade e preços mais baixos, muitas vezes com a vantagem da comunicação direta do consumidor com produtor. Desse diálogo nasce um vínculo de confiança e simpatia, base das boas relações humanas.
Ao poder público cabe estimular e aperfeiçoar as feiras livres, com boa infraestrutura, higiene e fácil acesso para os consumidores, viabilizando as condições necessárias ao comércio de alimentos, utensílios domésticos, artesanatos, roupas e acessórios. Por sua vez, a agricultura familiar, cujos produtos são vendidos nos mercados públicos, beneficia a comunidade como um todo, promovendo o consumo consciente, aumentando a segurança alimentar e gerando emprego e renda.
Para a agricultura familiar dar certo são indispensáveis ações que ajudem no preparo da terra, no acompanhamento técnico e no comércio da produção. Aí entra a Caravana da Embrapa, que chega em Arapiraca no dia 31 deste mês agosto. Trata-se de uma iniciativa concebida para levar as melhores tecnologias e conhecimentos ao produtor rural, com foco na eficiência do uso de fertilizantes e no manejo sustentável da terra.
O reconhecimento da importância do feirante e do agricultor familiar para o desenvolvimento social, cultural e econômico é um dever de justiça. No exercício do mandato na Câmara dos Deputados estou comprometido com a defesa de políticas públicas que realmente fortaleçam e assegurem melhores condições de trabalho ao feirante e investimentos na agricultura familiar, segmentos essenciais à economia do país que ainda carecem de programas governamentais efetivos.