Alagoas finalmente tem sua primeira terra indígena demarcada. Depois de anos de luta, o povo Kariri-Xocó viu, na última sexta-feira (28), a concretização da vitória com o anúncio do presidente Lula (PT) da homologação da demarcação das seis primeiras etnias deste governo. Entre as terras, Alagoas foi contemplada pela Kariri-Xocó, da região de Porto Real do Colégio.
À reportagem da Tribuna Independente, o cacique Nadinho, da Kariri-Xocó comemora, mas ressalta que a área poderia ser maior. “Os índios estão todos satisfeitos, estão todos alegres. Hoje nós temos só 600 hectares, tem mais de quatro mil índios, e a terra que é uma parte da gente aqui foi a que foi homologado hoje. Só foi 4.600 que ainda é pouco para gente pela quantidade de índio que somos”.
Falando sobre o processo que levou até aqui, ele se emociona. “Meu pai era o cacique na época. Foi o meu pai que pediu ao presidente Lula para ele demarcar até aqui. Hoje para mim foi um sonho, era o sonho do meu pai. Nossa demarcação começou no último mandato do governo Lula. Agora é só alegria, vai mudar muita coisa para gente porque nós vamos ter a terra para plantar”.
Criticando Bolsonaro, o cacique reforça o papel de Lula. “Quando assumiu Lula disse que uma das primeiras terras que ia demarcar era a Kariri-Xocó, foi questão do nosso presidente, que é Lula. Só temos a agradecer a ele, porque o outro presidente queria acabar com os índios”.
A antropóloga Gabriela Kariri-Xocó explica que a etnia atualmente tem em torno de cinco mil pessoas. “É uma vitória muito grande porque a gente sabe que os primeiros a sofrer com o processo de colonização fomos nós, os índios do Nordeste. E aqui na região do Vale do São Francisco, a gente tem essa vitória bastante significativa, porque é o primeiro território a ser reivindicado, como está lá escrito no Diário de Dom Pedro I quando ele faz a visita ao Vale do São Francisco”.
Gabriela faz ainda um recorte do papel das mulheres na etnia. “Isso é uma luta que passa de geração em geração e que desde o início tem a primeira mulher liderança a fazer uma
reivindicação junto ao estado brasileiro para o reconhecimento do seu território. Nesse momento que as mulheres são a representatividade dos povos indígenas no Brasil e no mundo isso tem uma importância muito maior”.
Reafirmando o tamanho do povo Kariri-Xocó, a antropóloga comemora. “É a primeira terra indígena ser homologada no estado de Alagoas e tem um peso muito grande, mas não muito distante nós somos a população indígena mais populosa do estado de Alagoas, né? Como o cacique falou são cinco mil indígenas”.
O coordenador da Fundação Nacional do Índios em Alagoas (Funai), Cícero Albuquerque, também comemora. “Para a gente é uma grande vitória. É uma comunidade muito grande, com uma expectativa de 2006 que se realiza e que nós estamos muito felizes”.
Por outro lado, o povo Xukuru-Kariri também está no mesmo estágio do processo, faltando apenas a homologação. “Nós primeiro vamos comemorar a vitória de hoje. A segunda parte é a história de Xukuru-Kariri, que nós entendemos que é um adiamento e que temos expectativa de que aconteça. Não tenho condições de te informar se está perto ou distante, mas temos boas expectativas de que isso venha a ocorrer. Cada processo é um processo, cada realidade é uma realidade, nem tudo passa por dinâmicas locais, escapam ao nosso comando, mas estamos com boas expectativas”.
Na visão de Albuquerque, o ato de Lula desta sexta-feira tem um significado muito importante assim do ponto de vista do país, inclusive de mundo. “É uma sinalização de que o processo de homologação recomeçou. É um passo adiante depois de um período tenebroso de que isso era impossível de se pensar. É uma grande conquista para a região de Portugal do colégio, a consolidação, efetivação de uma de uma justiça histórica. É uma realização social de um povo que está ali, que foi dono de uma região inteira e que hoje tem uma área demarcada. Nós entendemos que é fundamental para a construção da dignidade para defesa do meio ambiente”.
O coordenador da Funai regional Alagoas alerta para que o olhar seja direcionado para além das questões econômicas. “Às vezes, o olhar comum pensa isso só pela questão produtiva, e nós pensamos como uma questão de produção sim, porque tem uma produção indígena. Pensamos por uma questão ambiental porque tem a preservação do meio ambiente, o fortalecimento da preservação do meio ambiente e a consolidação de uma política de retomada de demarcação de retomada de homologação de retomada de Justiça com os povos indígenas. Nós estamos muito felizes, poderíamos estar mais, mas estaremos no futuro”.
Fonte – Tribuna Hoje