Viagens internacionais com cabines espaçosas, serviço exclusivo e regalias que incluem pratos refinados e até pijamas luxuosos. Assim têm sido as missões oficiais de alguns deputados federais, custeadas por verbas públicas. A escolha pela classe executiva ou, em alguns casos, pela primeira classe, eleva os custos das passagens, que podem ultrapassar os R$ 30 mil, tudo pago com dinheiro do contribuinte.
Dados recentes mostram que os parlamentares já registraram R$ 28 milhões em passagens debitadas da cota parlamentar até novembro de 2024. Além disso, outros R$ 3,7 milhões foram usados em missões oficiais, que também podem ser custeadas com verba da Câmara dos Deputados.
Entre os destinos, estão cidades como Las Vegas, Genebra, Dubai e Bruxelas. Em abril, por exemplo, um grupo de bolsonaristas viajou ao Parlamento Europeu, na Bélgica, para criticar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro do STF Alexandre de Moraes. A missão custou mais de R$ 100 mil, incluindo passagens e diárias.
O deputado Ricardo Salles (PL-SP) fez o trecho São Paulo-Lisboa na classe executiva, por R$ 22 mil, além de gastar outros R$ 3,7 mil em outro segmento da viagem.
Outro exemplo foi a viagem de Jonas Donizette (PSB-SP) para a Conferência Mundial de Radiocomunicações, em Dubai, em novembro do ano passado. Ele viajou de classe executiva e também de primeira classe, a um custo de R$ 19,6 mil.
Em abril, Donizette também viajou para Las Vegas, nos Estados Unidos, onde participou do NAB Show, um evento internacional de radiodifusão. Ele estava acompanhado de membros do governo, como o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União).
Já o deputado Vinicius Carvalho (Republicanos-SP) gastou R$ 32 mil em passagens de classe executiva para Washington, onde participou de debates sobre inteligência artificial, e outros R$ 24 mil em uma viagem para Genebra, na Suíça, sede de uma conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
As vantagens da classe executiva incluem espaços amplos, menus elaborados e kits de conforto. A Qatar Airways, por exemplo, oferece desde seleções de queijos e vinhos até produtos como balm labial e pijamas de luxo para seus passageiros.
Esses benefícios, no entanto, têm impacto significativo no orçamento público. Deputados justificam o uso das passagens mais caras sob alegações como mobilidade durante voos longos ou regras internas da Câmara.
O deputado Ricardo Salles afirmou que seguiu todas as normas da Câmara. Jonas Donizette justificou o uso da classe executiva citando uma recomendação médica, devido a uma cirurgia cardíaca realizada em 2013. Segundo ele, a diferença de preço em relação à classe econômica seria de cerca de 20%.
Já a assessoria de Lafayette de Andrada (Republicanos-MG) afirmou que as passagens foram as mais baratas disponíveis no momento da compra, sem regalias adicionais. O parlamentar gastou R$ 27,9 mil em passagens para Lisboa, em junho, e outros R$ 14 mil para Madri.
A Câmara dos Deputados foi questionada, mas não detalhou critérios para o uso de passagens em classes superiores. A portaria que regulamenta os gastos da cota parlamentar não faz menção específica ao uso de classe executiva ou primeira classe.