Ao inaugurar o Escritório de Alagoas em São Paulo, o governador Paulo Dantas (MDB) pregou união entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e o senador Renan Calheiros (MDB). Disse que os dois podem ajudar na governabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Nós temos de criar um ambiente de tranquilidade para que Lula possa aprovar projetos. Esse ambiente de briga e discussão é improdutivo. Eu sou um conciliador. Se eu tiver condição de unir o presidente Arthur Lira com o senador Renan Calheiros, eu farei isso”, disse o governador.
Esta semana e em depoimento na Polícia Federal, Renan voltou a acusar Lira de receber informações privilegiadas sobre investigações em Alagoas. “Ele anunciou para todos que estava nomeando a superintendente da Polícia Federal em Alagoas, se não me engano, em junho de 2022, Juliana de Sá Pereira Gonçalves, e que ela iria fazer a investigação de um fato que havia acontecido no âmbito da Assembleia Legislativa”, disse Renan.
A operação foi a Edema que afastou Paulo Dantas do governo durante a campanha eleitoral. O afastamento foi decidido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). O Supremo Tribunal Federal (STF) devolveu o mandato ao governador, mas o processo ainda tramita no Supremo – está sob relatoria do ministro Alexandre de Morais.
O senador disse que a delegada permitiu o vazamento de informações sobre a Operação Beco de Pecúnia, cujo alvo foi o prefeito de Rio Largo, Gilberto Gonçalves, aliado do presidente da Câmara. Gonçalves soube antes da operação e entrou na Justiça para barrar as investigações. Arthur Lira também acusou Renan de interferir em investigações da PF
“Ficou claro o porquê de Renan ter pedido o afastamento do superintendente da PF em AL. Queria abafar a operação Edema. Ele sabe que hoje não há interferência na PF, como na época em que ele mandava e desmandava. Ao invés de combater a corrupção, Renan quer mesmo é abafá-la”.
As declarações em tom de conciliação do governador são apenas da boca para fora. Na prática, a maior parte dos prefeitos alagoanos está no grupo palaciano e vigiados pelo calheirismo. E os prefeitos são fundamentais numa eleição: além dos votos nas cidades, eles também influenciam milhares de comissionados (e suas famílias) pendurados nas prefeituras.
Pelo menos 80 prefeitos pedirão votos aos candidatos do senador – e a ele próprio. Já Arthur Lira tem poderes diretos em duas grandes prefeituras: Arapiraca, do prefeito Lucia[1]no Barbosa (MDB), e Maceió, de JHC (PL). Luciano Barbosa quer Renan e Lira dividindo o mesmo espaço na campanha arapiraquense. O prefeito disputa a reeleição.
Além disso, Renan briga para influenciar na distribuição de cargos federais. E monitora as posições ocupadas por Lira. Nos cargos alagoanos, a vantagem está para Lira: ele tem a CBTU, do assessor Luciano Cavalcante, e a Codevasf, da família Pereira, além do Incra, que tem poderes na desapropriação de terras e puxa a política de reforma agrária, que não andou na era Jair Bolsonaro. Em Maceió, na Prefeitura, Lira controla mais de 40% do orçamento e tem contato direto com as pastas de orçamento: saúde, educação, assistência social.
Fonte – Extra