O Centro de Maceió é um bairro comercial. Uma ilha de trabalho com uma área em torno de 1.58Km² onde estão instaladas 4.472 empresas garantindo a sobrevivência de 27 mil trabalhadores formais, segundo pesquisa realizada em 2022 pelo Instituto Fecomércio de Estudos, Pesquisas e Desenvolvimento de Alagoas em parceria com a Aliança Comercial.
Na região dominam as microempresas e empresas de pequeno porte, que correspondem a 75,74% do total de empreendimentos do bairro e são responsáveis por 14% do PIB de Comércio e Serviços da capital alagoana. Para além do aspecto econômico, o Centro é um berço da história de Alagoas, contada pelo belíssimo e suntuoso patrimônio arquitetônico, hoje escondido atrás de fachadas sem nenhum atrativo nos prédios ou apagado pelo tempo em decorrência da falta de manutenção e desinteresse do poder público.
Atualmente, esse bairro singular e de grande importância econômica para Alagoas está convivendo com a possibilidade de vivenciar uma tragédia. A ameaça em questão é um incêndio de grande porte – que fuja ao controle e consuma diversas empresas. Essa possibilidade é real e fruto de multifatores, como a precariedade nas instalações elétricas, a sobrecarga na rede elétrica, a vulnerabilidade das edificações antigas e até os obstáculos para a ação de combate às chamas pelos bombeiros.
Aumento de casos
As estatísticas do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas (CBMAL) mostram aumento desse tipo de ocorrência no bairro. Em 2022, por exemplo, foram registrados 12 incêndios que precisaram da intervenção dos bombeiros em empresas, órgãos públicos, lixões e outras fontes no Centro. No ano passado esse número chegou a 22, uma alta de quase 100% no número de casos. O último incêndio na área, em 2023, gerou perda total para a loja da rede Magazine Luíza na Rua do Comércio e assustou muitos empresários. Apesar do laudo da perícia não ser um documento público, a informação extraoficial é de que a causa foi superaquecimento em um equipamento eletrônico.
No último dia 18 deste mês, outro incêndio de grande porte destruiu a Lojas Imperador que fica no calçadão do comércio, destruindo um terço do extenso prédio. Novamente, o fogo teve origem com um curto-circuito na rede, também segundo informação extraoficial. Na avaliação do major Carlos Vasconcelos, da Diretoria de Atividades Técnicas do Corpo de Bombeiros, vários fatores contribuem para o aumento da ocorrência de incêndios no Centro, além dos citados acima. Ele enfatiza que muitas vezes a causa de um incêndio de grande porte é simples, como um problema termoelétrico, que envolve o uso sobrecarregado de equipamentos.
Nos meses que antecedem as grandes datas para vendas no comércio, como final de ano, o aumento do estoque de produtos nas lojas também é fator de risco, segundo o major. Ele informa que em muitas empresas o estoque ampliado fica amontoado, chega a encostar no teto, na rede elétrica e em equipamentos sobrecarregados, favorecendo o surgimento de pequenos curtos-circuitos ou focos de incêndio que, se não controlados, podem resultar numa ocorrência grave.
O major também cita como risco as adaptações na rede elétrica sem a necessária avaliação de um profissional e até a manutenção das instalações internas que deveriam ser realizadas em tempo menor, apesar da legislação não exigir esse cuidado, pois, em tese, a validade é indeterminada.
Combate efetivo
O major Vasconcelos avalia que o Centro de Maceió é pouco acessível às viaturas dos Bombeiros e isso interfere de forma negativa quando é necessário combater um incêndio. Como bloqueios para a circulação das viaturas no comércio, o militar aponta barreiras nos acessos das ruas (para evitar que carros circulem em locais proibidos), presença de bancos, árvores, bancas de revistas ou quiosques de lanches no calçadão, instalações aéreas (fios nas ruas) e até as grelhas para escoamento de águas pluviais que não suportam o peso das viaturas.
O bombeiro também fala sobre a polêmica dos hidrantes, equipamentos reivindicados pelos empresários lojistas e apontados como ineficazes no Centro. A presidente da Aliança Comercial, Andreia Geraldo, denuncia que deficiência na manutenção de hidrantes na região é antiga e já foi denunciada aos Bombeiros. Segundo ela, há 10 equipamentos no Centro de Maceió, porém, em outubro do ano passado apenas 30% tinham recebido manutenção.
“Reivindicamos uma atenção maior aos hidrantes há mais de duas décadas. Neste intervalo, o Centro recebeu mais lojas. Muita coisa mudou e a quantidade de hidrantes permanece a mesma. Nós sabemos que esses equipamentos não passam por manutenção para garantir funcionamento eficaz quando é preciso. Uma prova é que, para combater o incêndio das Lojas Imperador foi necessária a ajuda dos empresários, que ofereceram oito caminhões-pipas para ajudar com estoque de água o Corpo de Bombeiros e o poder público”, afirmou.
Fonte – Extra