Enquanto o país lamenta 100 mil mortes provocadas pelo novo coronavírus, em 67 municípios brasileiros não há um único morador dentro dessas estatísticas. Não há também nenhum caso de contaminação registrado nessas cidades, que ficam em regiões quase isoladas geograficamente no Sul, Sudeste, Centro Oeste e Nordeste, segundo matéria publicada pelo UOL, que conversou com autoridades sanitárias de três desses municípios.
Em Ribeirão Corrente, uma das duas cidades paulistas ainda não registra caso de covid-19, o comércio está funcionando com uma barreira física na entrada e pontos de acesso a álcool gel. “Fica um fiscal específico para fiscalização e cumprimento do decreto municipal. A maioria dos comerciantes são da parte de alimentos, mercados, mercearias. Nosso comércio é muito pequeno, mas está tudo aberto”, conta Etiene Siquitelli Silva, secretário municipal de saúde.
Logo no começo da pandemia, Silva conta que a cidade fez uma ação com panfletos e até hoje atua para levar informação pelas redes sociais. “Talvez quem mais merece o mérito é a população. As pessoas fizeram sua parte, cumpriram o isolamento social e até hoje estão se cuidando”, diz.
Prova disso, diz, é que parte dos moradores viaja diariamente para trabalhar em Franca (SP), que conta com inúmeros contágios, e nunca houve um caso importado. “Eles seguem imunes porque seguem à risca o uso de máscaras e álcool gel”, garante, citando ainda que todos os funcionários da saúde foram testados.
Além disso, Silva reconhece que a tranquilidade da cidade foi também fundamental. “Nossa localização geográfica deve ajudar um pouco também, uma vez que a cidade não tem rodovias de alto fluxo passando ao lado”, afirma.
“Fizemos testagem em todos os funcionários da saúde, do Paço Municipal, do Conselho Tutelar e agora para o mês de agosto estamos programando uma testagem nos idosos com comorbidade.”
Em João Dias, no semiárido do Rio Grande do Norte, também não há rodovias de grande fluxo cortando o município, e a cidade é a única do estado a não registrar casos de covid-19.
Para assegurar a segurança sanitária, barreiras foram montadas na entrada da cidade, ligada à estrada que faz divisa com o estado vizinho da Paraíba.
“Desde o início da pandemia, a equipe da vigilância sanitária e as de saúde vêm realizando barreiras, distribuindo máscaras a toda a população, e dando orientação sobre medidas preventivas de higiene nos comércios. Para auxiliar nosso trabalho adquirimos termômetros infravermelhos, máquina para desinfecção das ruas, além do aumento da compra de EPIs [equipamentos de proteção individual] distribuídos aos profissionais da linha de frente”, diz a secretária Elisabeth Sousa.
Já no Centro-Oeste, Novo Planalto (GO) também é uma das raras cidades sem casos registrados até aqui. “A gente seguiu desde o começo o decreto estadual, que foi de suma importância para o sucesso das ações. As aglomerações não são permitidas na cidade; as vigilâncias sanitária e epidemiológica fiscalizam o comércio diariamente junto com Polícia Militar. O uso de máscaras é obrigatório e foi fundamental”, afirma a secretária municipal de Saúde, Alana Prado Avelar.
A preocupação agora, diz, é que o número de casos vem crescendo no interior goiano. “Nós estamos cercados por quatro cidades com casos já registrados, e a gente tem 18 pessoas sob monitoramento neste momento, mas nenhuma até aqui apresentou sintomas”, confirma.
Segundo Paulo Nadanovsky, professor do Instituto de Medicina Social do Departamento de Epidemiologia da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e pesquisador do Departamento de Epidemiologia da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), a medida mais correta para qualquer município que não tenha casos é obrigar todas as pessoas que chegarem a cumprirem uma quarentena de 15 dias.
Para ele, ações como a distribuição de máscaras, álcool gel e medição de temperatura não garantem uma cidade de se blindar do vírus. “Longe disso. A resposta certa é: são cidades com pouco influxo de pessoas de fora. E seus habitantes também não devem sair e voltar com frequência”, explica.
Uma das preocupações que essas cidades devem ter é que, como os estados estão reabrindo serviços e restabelecendo transportes intermunicipais, a doença chegue em um segundo momento e possa contaminar os moradores
“Isso é ainda ainda mais preocupante porque as cidades no Brasil estão relaxando o isolamento e o confinamento, permitindo mobilidade, abertura de comércio, escolas, etc., num momento em que a transmissão do vírus claramente não foi contida, como, por exemplo, cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Pior, tudo isso sem um sistema robusto de rastreamento de infectados e seus contatos”, aponta Nadanovsky.
Fonte – 7 Segundos