Uma nova disputa comercial entre Brasil e Estados Unidos ganhou força nesta semana, depois que o governo norte-americano impôs uma tarifa de 25% sobre a importação de aço e alumínio. A medida, assinada pelo ex-presidente e atual candidato Donald Trump, gerou reações imediatas no governo brasileiro, que busca reverter a decisão por meio de negociações diplomáticas e atuação junto à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Na manhã desta sexta-feira (14), representantes dos dois países se reúnem em Brasília para discutir o impacto da nova barreira tarifária. Pelo lado brasileiro, a equipe do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), conduz as conversas. Apesar da importância do encontro, Alckmin não estará presente pessoalmente.
A decisão de Trump, implementada na virada de terça (11) para quarta-feira (12), segue a mesma linha protecionista que marcou sua gestão anterior, quando medidas semelhantes foram aplicadas. Na quinta-feira (13), o republicano afirmou que não pretende voltar atrás, endurecendo o cenário para o Brasil, que hoje é o segundo maior fornecedor de aço e ferro para os EUA, atrás apenas do Canadá. No ano passado, os norte-americanos compraram cerca de US$ 4,67 bilhões em produtos metálicos brasileiros.
Estratégia brasileira: negociação e prudência
Diante do impasse, o governo brasileiro adotou uma postura cautelosa, priorizando o diálogo. Em nota oficial, classificou a decisão dos EUA como “injustificável e equivocada” e reforçou que acionará a OMC para contestar a medida. Além disso, indicou que continuará trabalhando em conjunto com o setor privado para minimizar os prejuízos às exportações brasileiras.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, sinalizou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) irá definir os próximos passos do Brasil após a reunião desta sexta-feira. No entanto, o governo já adiantou que não pretende adotar retaliações diretas, apostando na diplomacia como saída para o impasse. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que o Brasil seguirá o princípio da reciprocidade, sem tomar decisões precipitadas.
Alckmin também reforçou a posição do governo ao descartar uma resposta agressiva. “Entendemos que o caminho não é olho por olho. Se fizer olho por olho, todo mundo fica cego. O caminho no comércio exterior é ganha-ganha”, afirmou. O vice-presidente tem mantido conversas frequentes com autoridades norte-americanas, incluindo o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e o representante comercial Jamieson Greer, na tentativa de construir um consenso.
Repercussão no setor industrial e impactos econômicos
A nova tarifa sobre o aço e o alumínio brasileiros gerou reações no setor industrial. O Instituto Aço Brasil manifestou preocupação, mas aposta na possibilidade de reverter a decisão por meio do diálogo, assim como ocorreu em 2018, quando Trump também impôs barreiras semelhantes. Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) criticou a postura dos EUA, classificando-a como prejudicial à relação comercial entre os dois países e reflexo de uma “total falta de percepção” da importância do Brasil como parceiro estratégico.
Especialistas avaliam que a política tarifária de Trump pode causar turbulências na economia global, elevando custos de produção nos EUA e desorganizando cadeias produtivas. No caso brasileiro, o impacto direto deve ser relativamente modesto, mas não desprezível. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estima que a medida pode provocar uma leve retração de 0,01% no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
A criação de um grupo de trabalho entre os dois governos, anunciada pelo Itamaraty, indica que a busca por uma solução negociada será o caminho adotado pelo Brasil. Enquanto isso, empresários e economistas acompanham de perto os desdobramentos da disputa comercial, que pode afetar não apenas o setor siderúrgico, mas a dinâmica das relações econômicas entre os dois países nos próximos meses.