
A investigação da Polícia Federal (PF) sobre a existência de uma estrutura ilegal de espionagem na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), conhecida como “Abin paralela”, voltou a gerar reações nesta semana. O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) criticou duramente a atuação da PF, após a corporação identificar um aplicativo de monitoramento no celular de uma de suas assessoras.
Em publicações nas redes sociais, Carlos classificou a investigação como “muita sujeira e baixaria”, em resposta à divulgação de que um software suspeito havia sido encontrado durante perícia no aparelho da funcionária, apreendido em operação da PF realizada em janeiro de 2023.
O caso está em fase final de apuração, e a PF pretende concluir o relatório do inquérito ainda em abril. A corporação já reuniu indícios suficientes para pedir o indiciamento do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin.
Aplicativo sob suspeita
De acordo com a PF, o aplicativo encontrado no celular da assessora de Carlos Bolsonaro é usado para monitoramento remoto. Em depoimento prestado no último dia 4 de abril, a funcionária alegou que o utilizava apenas para acompanhar o filho menor de idade. Ela negou envolvimento com qualquer tipo de espionagem irregular.
A informação, inicialmente divulgada pelo SBT News e confirmada pelo portal Metrópoles, integra uma petição sigilosa enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, investigadores ressaltam que o uso do aplicativo não constitui a base da investigação, mas é um dos elementos apurados ao longo do inquérito.
Depoimento de Carlos Bolsonaro
O vereador do Rio de Janeiro também prestou depoimento à PF na mesma data. Segundo investigadores, o foco foi esclarecer a relação dele com Alexandre Ramagem, que comandou a Abin entre 2019 e 2022. Carlos afirmou que conheceu Ramagem em 2018, quando ele coordenou a segurança do então candidato Jair Bolsonaro, e negou qualquer proximidade ou solicitação de informações oriundas de ações ilegais da Abin.
Ele também rejeitou qualquer participação ou conhecimento sobre uso de softwares de espionagem para monitoramento de adversários políticos, jornalistas ou autoridades.
Carlos Bolsonaro foi alvo de mandado de busca e apreensão em janeiro do ano passado, como parte da operação da PF que apura o uso do software israelense FirstMile para o monitoramento clandestino de celulares. Entre os supostos alvos do esquema estariam os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia e o atual ministro da Educação, Camilo Santana.
Mensagens obtidas durante a investigação revelaram um diálogo entre a assessora de Carlos e uma funcionária de Ramagem, na época em que este dirigia a Abin. No conteúdo, a assessora solicitava informações sobre dois inquéritos envolvendo Jair Bolsonaro e seus filhos.
Dias antes dos depoimentos, Alexandre Ramagem também foi alvo de uma nova operação da PF. O parlamentar é apontado como suposto comandante da estrutura clandestina dentro da Abin, com atuação entre 2019 e 2022.
A expectativa é de que a PF finalize o relatório do caso nas próximas semanas e encaminhe os pedidos de indiciamento ao STF.