Após 25 anos de negociações, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia foi assinado nesta sexta-feira (6), durante a cúpula de líderes do bloco sul-americano em Montevidéu. O tratado promete reduzir tarifas sobre produtos importados da UE, como azeite, vinhos e queijos, além de beneficiar a indústria automotiva brasileira e europeia.
O pacto prevê que 91% das importações da UE para o Mercosul fiquem isentas de taxações. Em contrapartida, 98% do comércio agropecuário do Mercosul terá acesso preferencial ao mercado europeu. A eliminação de tarifas será escalonada: enquanto a UE eliminará 100% de suas tarifas industriais em até 10 anos, o Mercosul fará cortes em 91% das tarifas em até 15 anos.
Especialistas apontam que a redução tarifária deve levar à queda nos preços de produtos como azeite de oliva, vinhos e queijos no Brasil. O azeite, em especial, pode ser um dos itens mais afetados, uma vez que o país depende quase que exclusivamente de importações para atender à demanda interna. Em 2023, Portugal, Espanha e Itália responderam por mais de 41,9 mil toneladas de azeite importadas pelo Brasil, movimentando R$ 449 milhões.
“Com a queda das tarifas, os preços ao consumidor final podem diminuir, aumentando o fluxo comercial entre os dois blocos”, afirmou Eduardo Menicucci, professor da Fundação Dom Cabral.
No setor de vinhos, a concorrência europeia deve se intensificar no mercado brasileiro, graças à tradição e à diversidade de rótulos oferecidos por países como França, Itália e Portugal. “A Europa tem forte reputação no segmento e pode impactar nichos do mercado local”, explicou Felippe Serigatti, pesquisador da FGV Agro.
O segmento de automóveis de alto padrão, tradicionalmente sujeito a altos impostos no Brasil, também será beneficiado pelo acordo. Marcus Vinicius de Freitas, professor da China Foreign Affairs University, destacou que a queda escalonada das tarifas pode reduzir os preços desses veículos no médio prazo.
O setor de serviços também deve ganhar com o tratado, especialmente em áreas de alta especialização, como consultorias, tecnologia da informação e desenvolvimento de softwares. Mauro Rochlin, economista da FGV, enfatizou que o acordo atende a modalidades como comércio transfronteiriço, consumo no exterior e movimento temporário de profissionais, o que pode atrair investimentos e dinamizar os mercados.
Apesar dos benefícios, o acordo apresenta desafios para setores como o de lácteos no Brasil, que pode enfrentar concorrência com produtos europeus subsidiados. Serigatti alerta para o impacto no mercado local: “A produção de leite europeia, com excedentes e subsídios, permite preços altamente competitivos, desafiando o setor brasileiro.”
O tratado é considerado um marco histórico para o comércio entre os dois blocos, mas sua implementação dependerá de ajustes internos e negociações adicionais, especialmente em setores sensíveis. O acordo representa um passo estratégico na busca por maior integração econômica global do Mercosul.