A tragédia que deixou 18 mortos e mais de 20 feridos após um ônibus despencar da Serra da Barriga, em União dos Palmares, Alagoas, continua cercada de questionamentos. Nesta segunda-feira (25), Maria da Graça Cruz, viúva do motorista Luciano Costa de Araújo, conhecido como “Mão Cheia”, revelou a existência de um áudio enviado por ele dias antes do acidente, relatando problemas mecânicos no veículo.
No áudio, gravado em 19 de novembro, Luciano menciona falhas no ônibus: “Amor, o carro quebrou, pocou a mangueira. O César estava ajeitando, cheguei agora.”
Maria da Graça relatou que o marido frequentemente reclamava das condições dos veículos que dirigia, destacando que o ônibus envolvido no acidente já havia apresentado problemas semelhantes na semana anterior.
“Na terça-feira, um desses ônibus que ele trabalhou quebrou essa mesma mangueira que ocasionou o acidente. Se esse ônibus foi para a serra depois disso, significa que não deveria ter sido usado. Ou fizeram apenas um arranjo?”, questionou.
A viúva também revelou que Luciano, de 47 anos, não pretendia trabalhar no domingo, mas acabou aceitando por necessidade.
“Eu falei para ele: ‘Não vá, esposo’. Mas ele respondeu: ‘É o meu trabalho, preciso colocar o pão de cada dia em casa para vocês’. E olha onde chegou a vida dele: nesse caixão.”
Maria da Graça relatou que ela e a filha estavam inicialmente planejadas para embarcar no ônibus, mas desistiram na última hora.
Investigação em andamento
O delegado Guilherme Iusten, responsável pelo caso, confirmou que as autoridades estão cientes do áudio, mas ainda aguardam a conclusão da perícia para determinar se houve falhas técnicas no veículo.
“Recebemos a informação de forma extraoficial sobre possíveis problemas mecânicos, mas só a perícia poderá confirmar. Vamos analisar minuciosamente os componentes do veículo”, explicou.
Até agora, documentos apontam que o ônibus passou por uma inspeção veicular obrigatória em 13 de outubro e estava, em teoria, apto para uso.
O ônibus, que caiu de uma altura de 120 metros, deve ser içado ainda nesta segunda-feira para análise técnica. A Polícia Civil também intimará o proprietário da empresa responsável pelo veículo para prestar esclarecimentos.
Enquanto isso, familiares e amigos das vítimas vivem o luto, buscando respostas para a tragédia que abalou o município e trouxe à tona questões sobre a segurança no transporte público e a infraestrutura de acesso à Serra da Barriga.