A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), causou forte reação entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ao sugerir que o Congresso pode discutir a anistia de envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. A fala, feita na quinta-feira (10), foi interpretada como um recuo político e irritou integrantes da Corte, que enxergam no gesto um sinal de fragilidade do governo diante da pressão bolsonarista.
“A forma como a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), tratou, na quinta-feira (10), a anistia para envolvidos no 8 de janeiro revoltou alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).”
Durante entrevista, Gleisi afirmou:
“Falar sobre anistia ou mediação de pena em relação a algumas pessoas do 8 de janeiro eu acho que é defensável do ponto de vista de alguns parlamentares”, disse. “Acho que a gente até pode fazer essa discussão no Congresso.”
A frase caiu como uma bomba no Judiciário. Um ministro do STF afirmou que a declaração foi um erro grave:
“Loucura. O governo não tinha que piscar, não. Não é papel deles discutir a anistia.”
Outro magistrado viu a fala como uma tentativa do governo de fazer o “jogo” do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do deputado Hugo Motta, ambos sob pressão da bancada bolsonarista para avançar com o projeto de anistia. O clima, segundo ele, é de irritação e desconfiança.
Um terceiro integrante da Corte avaliou que Lula pode estar influenciado por sua experiência pessoal com a prisão e, por isso, mais sensível à ideia de rever penas — o que, na visão do STF, é perigoso diante do simbolismo dos ataques de 8 de janeiro.
Dentro do próprio governo, a fala também foi mal recebida. Assessores do Planalto afirmaram que a declaração de Gleisi não passou por avaliação prévia e não reflete a posição oficial de Lula. “Não cabe ao Parlamento definir as penas”, disse um interlocutor direto do presidente.
Na manhã de sexta-feira (11), Gleisi tentou se explicar:
“O que eu quis dizer é que cabe ao Congresso fazer a mediação com o Judiciário das questões envolvendo o 8/1 dessas reclamações que parlamentares estão fazendo sobre penas elevadas. Conversar, sim, cabe ao Congresso. Mas revisar pena é Judiciário”, declarou. “Não tem anistia nenhuma, como quer Bolsonaro.”
Mesmo com a correção, o estrago já estava feito. Juristas próximos ao governo, como Marco Aurélio Carvalho, do grupo Prerrogativas, também criticaram a fala:
“Não podemos banalizar o que ocorreu em 8 de janeiro. Eventuais revisões de penas devem ser discutidas pelo Supremo Tribunal Federal. Apenas e tão somente.”
No mesmo dia, a oposição conseguiu reunir os 257 votos necessários para aprovar o regime de urgência do projeto de anistia, o que coloca o tema diretamente no Plenário da Câmara. No STF, a percepção é clara: a fala de Gleisi foi vista como um recuo inaceitável — e acirrou ainda mais os ânimos entre os Poderes.