“Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) têm demonstrado incômodo com a pressão de caciques políticos e do mercado financeiro para que ele endosse o nome do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como seu candidato ao Palácio do Planalto em 2026.
No início da semana, em entrevista ao portal Leo Dias, Bolsonaro foi categórico ao responder sobre um substituto: ‘o sucessor sou eu’, disse ele. Dias depois, à Jovem Pan, ele reiterou que não escolheu nenhum nome e que só o fará ‘depois de morto’.
Fábio Wajngarten, aliado de primeira ordem de Bolsonaro, compartilhou nesta semana uma publicação ironizando a campanha de empresários da Faria Lima por Tarcísio. “Quantos votos a Faria Lima tem para definir um sucessor?”, diz o post retuitado por Wajngarten no X.
O movimento para reafirmar Bolsonaro como candidato acontece justamente quando líderes políticos começam a falar em prazos para a escolha de um substituto. O presidente do PP, Ciro Nogueira, disse à Folha de S. Paulo que, se o nome for Tarcísio ou Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná, a decisão precisa sair ainda este ano para que haja tempo de organizar a transição.
Na mesma linha, o presidente do Republicanos, deputado federal Marcos Pereira (SP), afirmou: ‘O ideal é ele decidir até dezembro para que tenhamos tempo de organizar o campo da centro-direita’.
O temor de dirigentes partidários é que Bolsonaro siga a estratégia de Lula em 2018: mantenha sua pré-candidatura até o limite do prazo legal e, na última hora, lance alguém de sua família, como Eduardo Bolsonaro (PL) ou a ex-primeira-dama Michele Bolsonaro (PL). Os partidos de centro-direita rejeitam embarcar em uma candidatura que tenha um familiar de Bolsonaro como cabeça de chapa.
A chapa mais competitiva na avaliação do Centrão é Tarcísio como candidato e Michelle vice. Bolsonaristas, contudo, rechaçam a possibilidade e dizem que a ex-primeira-dama será candidata ao Senado pelo Distrito Federal.
“Por pesquisa e trabalho técnico, essa seria a chapa ideal para a realidade política atual. O que falta saber é se será a chapa de Jair Bolsonaro. Eleitoralmente, Michelle Bolsonaro é o nome mais forte da direita depois dele. Ela representa o bolsonarismo, é mulher e evangélica. Tarcísio de Freitas, por outro lado, é o candidato de centro-direita com maior capacidade de agregar partidos. É improvável que legendas como MDB e PSD se unam a uma chapa de centro-direita sem ele, mas com Tarcísio, essa possibilidade se torna real”, diz Murilo Hidalgo, sócio da Paraná Pesquisas.
A mais nova estratégia para manter viva a esperança de que Bolsonaro ainda possa reverter sua inelegibilidade e disputar em 2026 é reforçar a ideia de que o cenário internacional pode influenciar seu futuro político. Bolsonaristas dizem que a ofensiva do governo Donald Trump contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), é um indício de que os Estados Unidos podem intervir no processo político brasileiro e mudar o jogo a favor do ex-presidente.
Quem encabeça esse movimento é Eduardo Bolsonaro, que tem feito um périplo pelos EUA para denunciar a suposta perseguição do Judiciário brasileiro ao seu pai e tentar convencer políticos conservadores e aliados de Trump a agirem para reverter a situação.
Entre os pedidos, estão que o atual governo norte-americano ajude a expor uma suposta interferência dos EUA nas eleições brasileiras, pressione por eleições em que a “oposição pode concorrer”, em uma alusão à reversão da inelegibilidade de Bolsonaro, e utilizem ferramentas diplomáticas para responsabilizar agentes públicos que, de acordo com os bolsonaristas, cometeram violações contra a democracia.
O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbegh Farias (PT), pediu que a Procuradoria-Geral da República investigue o deputado por crimes contra a soberania e as instituições brasileiras. O petista argumentou que Eduardo “patrocina retaliações” contra o Brasil e Moraes.
Uma comissão da Câmara dos Representantes norte-americana, o equivalente à Câmara dos Deputados brasileira, aprovou projeto de lei para barrar a entrada do ministro do STF no país.. O texto prevê que autoridades estrangeiras que atuarem contra liberdade de expressão de cidadãos americanos sejam impedidas de entrar nos Estados Unidos ou possam ser deportadas. Moraes não é citado no projeto, mas os parlamentares que assinam a proposta já criticaram decisões dele.
Fonte – Blog do Flávio Gomes de Barros