A mais recente investida do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no campo das tarifas comerciais tem como novo alvo o Brasil. A decisão de taxar em 25% as importações norte-americanas de aço e alumínio, anunciada no último domingo (9), coloca o governo Lula diante de um impasse diplomático e econômico. Enquanto a Casa Branca reforça que a medida busca proteger a indústria local, especialistas alertam para os impactos no comércio global e na competitividade brasileira.
A decisão, que entra em vigor em 12 de março, não poupa nenhum país. Além do Brasil, Canadá, México e até aliados históricos dos EUA foram atingidos. “Se houver retaliação, nós retaliaremos. É recíproco”, declarou Trump ao assinar a ordem executiva, deixando claro que não recuará diante de eventuais respostas dos países afetados.
Brasil no alvo da guerra comercial
No primeiro mandato de Trump, em 2018, tarifas semelhantes foram impostas, mas após negociações, o Brasil conseguiu escapar das sanções por meio de cotas de exportação. Agora, no entanto, o cenário se mostra mais complexo. O Brasil foi o segundo maior fornecedor de aço para os EUA em 2024, o que torna a medida especialmente preocupante para a indústria nacional.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e associações setoriais, como Aço Brasil e a Associação Brasileira do Alumínio (Abal), ainda não se manifestaram oficialmente, mas bastidores indicam forte apreensão com os efeitos da nova tarifa. No ano passado, a exportação de aço representou quase metade das vendas brasileiras para os EUA, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Lula e a estratégia de resposta
O presidente Lula, que em janeiro havia defendido a chamada reciprocidade comercial, adota um tom cauteloso enquanto analisa o cenário com seus assessores. “Se ele [Trump] taxar, haverá reciprocidade do Brasil com os produtores brasileiros. Não tem nenhuma dificuldade”, afirmou o presidente em declarações anteriores.
Apesar do discurso firme, o governo brasileiro ainda não apresentou uma resposta oficial. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que aguardará a oficialização da medida antes de qualquer posicionamento. Já o vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, defendeu o diálogo e relembrou que, no passado, cotas foram negociadas para evitar um impacto maior na relação comercial entre os países.
A experiência do México pode servir de referência para o Brasil. A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, conseguiu adiar a aplicação das tarifas após negociações diretas com Trump, em troca do envio de tropas para conter a imigração ilegal na fronteira com os EUA.
Impactos na economia e nos mercados
O saldo da balança comercial entre Brasil e EUA já era deficitário em 2024, com um déficit de US$ 253,3 milhões. Com a nova taxação, a tendência é que as exportações brasileiras para o mercado norte-americano sofram ainda mais, o que pode levar a perdas de empregos e redução da produção no setor siderúrgico nacional.
Para Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do MDIC, a medida de Trump ignora os fortes laços econômicos entre os dois países. “As relações profundas entre os dois países, vínculos empresariais importantes e comércio intrafirma significativo deveriam ser considerados antes de decisões como essa”, destacou.
Enquanto o Brasil monitora os desdobramentos, a decisão de Trump reforça a política protecionista adotada desde sua posse em janeiro. Além do Brasil, países como China e nações da União Europeia também estão na mira do republicano, que busca fortalecer a indústria norte-americana a qualquer custo.
O governo brasileiro seguirá com reuniões ao longo dos próximos dias para definir sua estratégia. A resposta de Lula poderá passar por negociações diretas ou medidas retaliatórias, mas o impacto da nova tarifa já preocupa empresários e trabalhadores do setor. O Brasil está diante de um teste diplomático que exigirá habilidade política e firmeza para minimizar danos e preservar sua posição no comércio internacional.