A possível fusão entre o PSDB e o PSD abriu mais uma fissura dentro de um partido que já foi uma das principais forças políticas do Brasil. Plínio Valério (PSDB-AM), único senador tucano ainda em exercício, declarou que pode deixar a sigla caso a união com o PSD seja confirmada. “Se tiver a fusão ou a incorporação, não teria como ficar”, afirmou em entrevista ao Poder360.
Enquanto o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, negocia a medida como uma estratégia de sobrevivência para o partido, a declaração de Plínio reflete a resistência de uma ala que enxerga a fusão como uma ruptura ideológica. O senador destacou que sua oposição ao PSD está ligada às alianças que a legenda mantém com partidos como PT e MDB, adversários históricos do PSDB. “Não me vejo numa fusão, numa incorporação com o PSD, com o MDB, com o PT. Não me vejo, não tem como. Mas eu só vou me preocupar com isso depois da reunião da nacional”, disse.
Um Partido em Busca de Rumo
A crise no PSDB é reflexo de uma série de derrotas eleitorais e perda de relevância política nos últimos anos. Em 2019, o partido contava com seis senadores, mas essa representatividade se desfez diante de disputas internas e alianças pouco consensuais, como a federação com o Cidadania em 2022. Hoje, a legenda tenta se reestruturar após sofrer reveses emblemáticos, como o fiasco da candidatura de José Luiz Datena à Prefeitura de São Paulo em 2020, que obteve apenas 1,84% dos votos.
Marconi Perillo, em declarações recentes, confirmou que a fusão ou incorporação deve ser formalizada até março de 2025. A meta seria ampliar a base de apoio para 2026, quando o PSDB busca retomar alguma relevância eleitoral. No entanto, a união com o PSD, presidido por Gilberto Kassab, tem gerado debates sobre a identidade do partido, que foi um dos protagonistas da política nacional nos anos 1990 e 2000.
O Futuro de Plínio Valério
Para Plínio Valério, que também é presidente do PSDB no Amazonas, o partido corre o risco de se diluir completamente ao ceder espaço para legendas com posições que considera incompatíveis com a tradição tucana. “Minha resistência é puramente ideológica. Tenho respeito pelo PSD, mas são diferenças que não posso ignorar”, afirmou.
O senador aguarda a definição oficial da direção nacional do PSDB antes de tomar qualquer decisão, mas seu discurso indica que a fusão pode marcar o fim de sua trajetória no partido. A saída de Plínio representaria o desaparecimento do PSDB no Senado, um marco simbólico para uma legenda que, em seu auge, foi peça-chave na construção do Plano Real e em governos emblemáticos como os de Fernando Henrique Cardoso.
Uma Estratégia de Sobrevivência ou de Descaracterização?
A fusão com o PSD é vista por alguns analistas como a única saída para o PSDB continuar competitivo. A sigla perdeu espaço para partidos como o União Brasil e o próprio PSD, que têm avançado em estados antes dominados pelo tucanato. No entanto, a medida também provoca resistência interna e pode alienar lideranças que ainda carregam o peso simbólico de sua fundação.
O futuro do PSDB, e de figuras como Plínio Valério, dependerá da habilidade do partido em equilibrar renovação com respeito às suas raízes. A reunião nacional prevista para os próximos meses será decisiva para determinar se a fusão será uma solução para a sobrevivência ou o ponto final na trajetória de um dos partidos mais importantes da história política recente do Brasil.