Após um acordo entre Israel e o Hamas nesta semana, uma primeira leva de reféns sob poder do grupo terrorista será libertada no domingo (19), conforme anunciado nesta sexta-feira (17) pelo gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
Cerca de cem pessoas sequestradas pelo Hamas em 7 de outubro de 2023 ainda estão sob poder do grupo, e sua liberação é um dos pontos do acordo. O pacto também prevê que Israel libere centenas de palestinos detidos em seu território e interrompa os bombardeios na Faixa de Gaza.
O gabinete de Netanyahu não revelou quantos reféns serão libertados no domingo nem forneceu seus nomes. Um dos reféns é um bebê sequestrado quando tinha apenas dez meses. O Hamas alegou que a criança morreu em um bombardeio, mas Israel nunca confirmou essa informação.
A libertação dos 33 reféns está prevista para a primeira fase do acordo, mas o cronograma detalhado, incluindo a possibilidade de libertação total no domingo, ainda não foi divulgado pelo governo israelense.
Diante da possibilidade de um novo conflito, Israel cedeu e aceitou os termos do acordo de cessar-fogo com o Hamas, conforme comunicado oficial do gabinete do primeiro-ministro.
O governo de Israel ainda realizará uma votação interna entre os ministros de Netanyahu sobre o texto do acordo nesta sexta-feira (17). No entanto, a expectativa é de aprovação, apesar da resistência por parte da ala mais radical do governo.
Cessar-fogo
A guerra na Faixa de Gaza, que durou 467 dias e causou a morte de quase 48 mil pessoas, chegou ao fim com um acordo de cessar-fogo anunciado na quarta-feira. A implementação do tratado, no entanto, depende da aprovação do governo israelense.
O governo de Israel tem evitado comentar o acordo até a reunião ministerial e chegou a ameaçar não aprová-lo devido a “exigências de última hora” feitas pelo Hamas. Nos últimos dias, Netanyahu expressou agradecimentos aos Estados Unidos, Catar e Egito pela mediação das negociações.
Antes mesmo da confirmação oficial, muitos israelenses já celebram o acordo devido à promessa de libertação dos reféns. Por outro lado, uma ala, que inclui representantes do governo de Netanyahu, se opõe veementemente à assinatura do pacto.
O principal opositor do acordo do lado israelense é Itamar Ben-Gvir, ministro de Segurança Nacional no governo de Netanyahu. Líder do partido ultradireita Poder Judaico, Ben-Gvir é um defensor dos assentamentos israelenses nos territórios palestinos e um crítico veemente da solução de dois Estados.
“O acordo que está tomando forma é um acordo imprudente”, disse Ben-Gvir em uma declaração televisionada, dizendo que “apagaria as conquistas da guerra” ao libertar centenas de militantes palestinos e se retirar de áreas estratégicas em Gaza, deixando o Hamas em vantagem.
Na primeira fase do acordo, 33 reféns mantidos pelo Hamas serão libertados e retornarán a Israel. Os 65 restantes seriam liberados em uma possível segunda fase. Em contrapartida, Israel se comprometeria a liberar centenas de prisioneiros palestinos.
“Se esse acordo irresponsável for aprovado e implementado, nós, membros do Poder Judaico, enviaremos cartas de renúncia ao primeiro-ministro”, disse ele, acrescentando que, ainda assim, não tentaria derrubar o governo.
Ben-Gvir também pediu ao ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que descreveu o acordo como uma “catástrofe”, para se juntar a ele em uma última tentativa de impedir o cessar-fogo, que ele descreveu como uma capitulação perigosa ao Hamas.
O partido Sionismo Religioso, liderado por Smotrich, reiterou sua oposição na quinta-feira, ameaçando abandonar o governo caso ele não retome a guerra contra o Hamas após a conclusão da primeira fase de seis semanas do cessar-fogo.
Em um movimento que pode ser interpretado como um sinal para os extremistas de direita, Netanyahu acusou nesta quinta-feira o Hamas de alterar os termos do cessar-fogo na Faixa de Gaza, afirmando que o grupo terrorista gerou uma “crise de última hora” no acordo.
Em outubro, Ben-Gvir participou de um evento de radicais israelenses que apoiaram a realocação de israelenses para assentamentos na Faixa de Gaza, assim como os existentes na Cisjordânia, uma prática que a ONU e a comunidade internacional consideram uma ocupação ilegal.
A presença dos assentamentos é considerada um obstáculo à paz na região, pois os israelenses ocupam terras que os palestinos pretendem utilizar para estabelecer seu Estado.
No mesmo evento, o extremista também pediu a Israel para “encorajar a emigração” de palestinos para fora de Gaza. “É a melhor solução e a mais moral, não pela força, mas dizendo a eles: ‘Estamos dando a vocês a opção, vão embora para outros países, a Terra de Israel é nossa'”, disse ele.
O conflito na Faixa de Gaza teve início quando terroristas do Hamas realizaram uma invasão surpresa ao sul de Israel, matando mais de 1.200 pessoas e sequestrando mais de 200. No mesmo dia, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou guerra ao Hamas, que controlava a Faixa de Gaza.
Durante mais de um ano de guerra, os bombardeios de Israel e as incursões terrestres devastaram grandes áreas da Faixa de Gaza, especialmente no norte, deixando muitas regiões em ruínas e provocando uma grave crise humanitária para a população de 2,3 milhões de pessoas.