Nesta quarta-feira (6), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve anunciar uma nova elevação na taxa básica de juros, a Selic, refletindo as pressões recentes sobre a economia brasileira, como a alta do dólar e o impacto da seca nos preços de energia e alimentos. O aumento seria o segundo em pouco mais de dois anos, desde que o ciclo de cortes foi interrompido, mostrando a necessidade de resposta a um cenário de inflação em alta.
De acordo com a última edição do boletim Focus, que compila projeções de analistas do mercado financeiro, espera-se que a Selic suba 0,5 ponto percentual nesta reunião, alcançando 11,25% ao ano. A previsão é de que a taxa encerre 2024 em 11,75%. Em sua reunião de setembro, o Copom justificou a alta com base na resiliência da atividade econômica e nas pressões sobre o mercado de trabalho, sinalizando uma política de contenção da demanda.
No último boletim Focus, a projeção de inflação para 2024 subiu para 4,59%, um valor acima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. Em outubro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação, registrou alta de 0,44%, impulsionado pela bandeira vermelha nas contas de energia elétrica e pelo aumento dos preços dos alimentos, afetados pela seca no início do semestre.
Fernando Haddad, ministro da Fazenda, reconheceu em setembro que a seca prolongada deve ter impacto sobre os preços dos alimentos. Na ocasião, ele destacou que a solução para o choque de oferta de alimentos não está nos juros, sugerindo que o aumento da Selic pode não ser a medida ideal para lidar com todos os fatores inflacionários.
Impacto da Selic na Economia
A Selic é a taxa de juros utilizada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional e serve de referência para as demais taxas da economia. Como principal ferramenta do Banco Central para controlar a inflação, o aumento da Selic visa reduzir a demanda ao encarecer o crédito, o que, por sua vez, desacelera o consumo e ajuda a conter a alta nos preços.
Contudo, a elevação dos juros básicos também tem efeitos secundários, como a limitação do crescimento econômico, ao tornar o crédito mais caro e estimular a poupança. Em contrapartida, a redução da Selic tende a baratear o crédito, incentivando o consumo e a produção, embora isso possa comprometer o controle da inflação.
O Copom, que se reúne a cada 45 dias, conduz análises profundas sobre a economia brasileira e global antes de tomar suas decisões. No primeiro dia de reunião, ocorrem apresentações técnicas, enquanto no segundo dia, a diretoria do Banco Central define o novo valor da Selic, com base nas condições econômicas e nas expectativas para o mercado.
Para 2024, a meta de inflação definida pelo CMN é de 3%, com um intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%. No último Relatório de Inflação, divulgado em setembro, o Banco Central projetou que o IPCA fecharia o ano de 2024 em 4,31%, uma estimativa feita antes da recente alta do dólar e dos efeitos adicionais da seca sobre os preços. O próximo relatório de inflação, que deve atualizar essas previsões, será publicado em dezembro.
A decisão do Copom nesta quarta-feira será acompanhada com atenção, especialmente pelo impacto que uma possível alta de 0,5 ponto percentual poderá ter sobre o custo de vida dos brasileiros e o crescimento econômico. Com o aumento dos preços de alimentos e energia, o Banco Central mantém sua postura cautelosa, tentando equilibrar a necessidade de controle inflacionário com a preservação da atividade econômica.