O ex-chefe do Ministério Público Estadual e pré-candidato à Prefeitura Municipal de Maceió, Alfredo Gaspar de Mendonça, fez – nos últimos dias – uma postagem curta em suas redes sociais que se resume a uma pequena citação. Encontra-se lá: “Confio mais nas atitudes do que nas palavras. Meu prefácio é minha história”.
Todavia, diante do contexto atual da formação dos grupos políticos na capital alagoana, o aforisma não se encontra ali de forma solta. Alfredo Gaspar demonstra ter ciência do ônus e do bônus que é ter o apoio do prefeito Rui Palmeira (sem partido) e do governador Renan Filho (MDB)
Sem entrar no mérito das decisões tomadas pelos dois gestores diante do combate à pandemia do novo coronavírus, essas ações receberam apoios, mas também críticas, sobretudo por muita gente que faz parte do chamado setor produtivo.
Isso gerou desgastes para ambos e podem refletir na avaliação de suas administrações. É aí que o ônus e o bônus passam a pesar sobre o candidato do governador e do prefeito. Além disso, há uma crítica natural: Alfredo Gaspar surgia como o novo no processo eleitoral, mas acabou concentrando o apoio das forças políticas tradicionais do Estado.
Outro ponto é o seguinte: Rui Palmeira e Renan Filho eram rivais políticos. Atualmente, ao olhar a Prefeitura de Maceió se observa uma sinergia com o governo estadual que fez com que o chefe do Executivo municipal praticamente sumisse. Rui Palmeira parece até que virou um personagem de “Apertem os cintos, o piloto sumiu…”.
Agora, falar sobre as alianças de Alfredo Gaspar no sentido de criticar a “política tradicional” não significa dizer que seus concorrentes soam como novidade. Jamais! Aliás, quem menos pode criticar Gaspar de Mendonça nesse sentido são seus principais opositores no pleito.
Afinal, também são fruto do legado tradicional em que se perpetuam pais e filhos. Isso ocorre tanto com o deputado federal João Henrique Caldas, o JHC (PSB), em que pese seu mandato ter sua própria marca; também ocorre com o deputado estadual Davi Davino, que está associado ao deputado federal Arthur Lira (PP) e ao senador Benedito de Lira (PP), além de ser de uma linhagem política. O que vale para Francisco, vale para Chico também. A diferença – entretanto – é que Alfredo Gaspar estará ao lado das “máquinas”.
Dito isso, é de se perceber contextos. Logo depois de surgir a discussão sobre para qual lado se encaminhará o Democratas do secretário municipal, José Thomaz Nonô, Alfredo Gaspar fez questão de uma postagem – em suas redes sociais – que firmasse sua trajetória e apontasse para uma independência em função do compromisso com sua biografia. Não creio em coincidências. Sendo assim, não vejo tal frase como obra do acaso.
É que na discussão envolvendo o Democratas, o deputado estadual Davi Maia (DEM) – que trabalha para tirar a legenda da base de Alfredo Gaspar e levá-la para o apoio a JHC – soltou a seguinte declaração: “A eleição de Alfredo Gaspar seria uma extensão do mandato de Renan Filho na Prefeitura de Maceió”. Coincidência ou não, a frase do ex-chefe do MP vem como uma resposta. Diz Alfredo Gaspar, como já exposto no primeiro parágrafo: “Confio mais nas atitudes do que nas palavras. Meu prefácio é minha história de vida”.
Para bom entendedor, basta meia palavra. Alfredo Gaspar coloca sua trajetória acima das alianças circunstanciais do processo político. Caberá ao eleitor avaliar isso ou não. Óbvio que a frase não tem como alvo apenas o parlamentar do Democratas, mas uma série de críticos que tentam desconstruir o pré-candidato em função dos apoios que agora recebe. Isso é mais do que claro. Portanto, Gaspar de Mendonça sabe muito bem que há o bônus na posição que ocupa, mas há também um ônus para o qual, em diversos momentos, terá que se posicionar com alguma resposta.
Nas entrelinhas da frase de Gaspar de Mendonça está a tentativa de dizer: “o prefeito serei eu e não os meus aliados”.
O lamentável dessa discussão, caro leitor, é que em Alagoas a sensação é a seguinte: todo aquele que se projeta como o novo acaba sendo sugado por um xadrez político que apresenta pouca diferença entre as peças, pois – como em uma estratégia das tesouras – os rios sempre acabam correndo para o mesmo mar.
Fonte – Cada Minuto