O portal de notícias Metrópoles divulgou áudios gravados durante uma reunião na qual empresários e políticos criticaram o “alto valor” que estaria sendo cobrado por promotores e desembargadores do Tribunal de Justiça de Alagoas. A conversa foi registrada por um dos presentes, sem o conhecimento dos demais, dentro da Câmara Municipal de Coruripe. No áudio, o grupo discute a suposta divisão dos valores provenientes da venda da safra de cana-de-açúcar para a massa falida de uma agroindústria local.
Em um dos áudios, José Raimundo de Albuquerque Tavares, empresário e ex-prefeito de Junqueiro, conversa com Joaquim Beltrão, ex-deputado federal e ex-prefeito de Coruripe, sobre a quantidade de pessoas “comendo” dinheiro com o bilionário processo de falência da Laginha Agroindustrial.
A empresa é avaliada em R$ 3 bilhões e tem dívida fiscal e trabalhista de aproximadamente R$ 4 bilhões. A massa falida da indústria, que pertencia ao empresário e ex-deputado federal João Lyra, morto em 2021, reúne três usinas de açúcar e etanol.
“Às vezes, sem querer o cabra consegue umas coisas, um negócio a favor. Aí sobre isso todo mundo ficou ‘peixe’, ninguém foi atrás do promotor, ninguém foi atrás de nada, ficou ali”, consta na gravação.
“Eles têm o poder da caneta. Se eles quiser [sic] moer essa cana todinha, aí eles mói. Só que tem um problema: fica com medo de a gente tocar fogo em tudo, nem a gente nem eles”, diz Joaquim Beltrão, no áudio.
“É como o Joaquim e o Alfredo disseram aí, agora há pouco, que é caro demais, agora é porque também é muita gente comendo”, diz Raimundo Tavares. “É… não é porque… é gente comendo, também, os caras querem muito”, responde Beltrão.
Raimundo, então, completa: “É caro por isso. Muita gente comendo demais. É o promotor, é o administrador, é o povo de São Paulo, aí é Sandro, aí é desembargador, é filho de desembargador.”
“Quando soma, é um valor da p*rra. É por isso que fica caro”. Na conversa, o empresário não cita os nomes dos desembargadores e promotores que seriam contemplados.
Em dezembro, a Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de Alagoas nomeou dois promotores para apurar o conteúdo da gravação. Os áudios datam de 21 de outubro de 2022 e foram juntados ao processo de falência da Laginha, que se arrasta no TJ alagoano desde 2014.
Todos os anos, como estratégia para levantar fundos e amortizar as dívidas, os administradores da massa falida vendem a cana produzida nas terras da Laginha para outras usinas. Isso ocorre porque as unidades ligadas ao grupo estão inoperantes devido à falta de manutenção.