No último domingo, 21 de abril, o programa Fantástico apresentou uma reportagem alarmante sobre a violência das torcidas organizadas em Alagoas. A Justiça estadual levou 11 dirigentes dessas torcidas ao banco dos réus por organização criminosa. A polícia e o Ministério Público declararam guerra contra a violência dos falsos torcedores, que, segundo as investigações, espalham o terror nas ruas com explosão de bombas, agressões e até mortes.
Durante um ano, as investigações mapearam uma série desses ataques. Nos últimos dois anos, a polícia apreendeu, pelo menos, 50 bombas em Maceió, das quais três resultaram em fatalidades. Uma dessas bombas também mutilou a mão de um catador de latinhas, que estava escondida em uma lixeira. “Como eles não conseguem acessar os estádios de futebol com os artefatos, eles acabam — dias antes — deixando-os escondidos nas proximidades [dos estádios]. Quando têm oportunidade, vão lá, alcançam esses artefatos que sabem onde previamente esconderam, para usar na guerra”, explicou o delegado Lucimério Barros Campos, responsável pelas investigações. Para coibir o crime, a Polícia Civil de Alagoas (PC/AL) deflagrou uma operação inédita, chegando até os suspeitos.
A batalha urbana foi flagrada de vários ângulos. Em Maceió, as torcidas organizadas do CSA e do CRB se encontravam para assistir aos jogos no Estádio Rei Pelé. De acordo com as investigações, dentro do estádio, praticamente não havia confusão. A violência era do lado de fora. O alvo? Qualquer pessoa com a camisa de um dos times. E, para combater esse tipo de crime, polícia e Ministério Público mudaram a forma de agir. “Aquela associação de pessoas ali tinha perdido completamente a relação com o futebol e estava tendo uma relação agora com a criminalidade”, disse o delegado ao Fantástico. Segundo as investigações, nas sedes das organizadas, os falsos torcedores fabricavam as bombas. Em conversas obtidas pelo Fantástico, um deles diz: “Demorou, mas eu já tô chegando lá pra nós tá fazendo aqui as bombas”.
No dia 4 de maio de 2023, o CSA perdeu para o Confiança numa partida da Série C do Campeonato Brasileiro. Logo depois do jogo, o torcedor Pedro Lúcio dos Santos, conhecido como “Peu”, foi atacado, segundo a polícia, por 12 homens da torcida do CRB, após comer numa lanchonete ao lado do estádio. Espancado com pedras, paus e barras de ferro, ele morreu três dias depois. Peu era torcedor do CSA e pai de um goleiro das divisões de base do rival CRB. As investigações descobriram que — horas antes desse ataque — o mesmo grupo investiu contra um motoqueiro, só porque ele estava com uma camisa do CSA. Este mês, a Justiça aceitou a denúncia e manteve 15 prisões. Eles se tornaram réus por organização criminosa, uso indevido de símbolos oficiais e associação para o tráfico. As torcidas do CRB e do CSA também não podem vender produtos, nem entrar no estádio. “Os presos, eles eram peças-chave, eles eram da diretoria, eles eram presidente, vice-presidente das torcidas organizadas”, explicou a promotora Sandra Malta.
Em nota, a torcida organizada Comando Alvi-Rubro, do CRB, disse que não foi encontrado nenhum material ilícito na sede e que não busca a impunidade dos criminosos, mas quer um processo justo. No dia em que o catador foi atingido, eles colocaram fotos do ferido nesse grupo de mensagens e fizeram comentários com risadas. A torcida Mancha Azul do CSA também afirma que nada de ilícito foi encontrado na sede. No caso das bombas, os nove suspeitos presos não têm ligação com a entidade e que, em nenhum momento, ela foi procurada para esclarecer tais acusações.
*informações de GazetaWeb