O afundamento do solo, causado pela mineração da Braskem em Maceió (AL), deixou o Hospital Escola Portugal Ramalho praticamente isolado. Ele está localizado no bairro do Farol, área de criticidade 01, a segunda de maior risco.
O que aconteceu
O hospital está sob monitoramento e ainda sem previsão de realocação. A condição é motivo de preocupação e medo por parte de funcionários.
A auxiliar de enfermagem Patrícia Juliana Sousa, 51, é uma das que temem pelo pior. Na noite da última quarta (10), ela entrou no plantão noturno às 19h, mas deixou o hospital duas horas depois, após uma crise de pânico.
“O pânico que tive foi muito grande. Tive vontade de ir embora andando. Eu falei com a enfermeira de plantão, saí e fiquei esperando minha filha na porta do Batalhão da PM [que fica na mesma rua, mas mais distante da área de risco] porque era mais fácil de correr. Fiquei extremamente abalada.”
Ela conta que tem transtorno de ansiedade e, logo após o anúncio de que a mina 18 iria colapsar, ficou assustada. Sousa relata que procurou seu psiquiatra, de quem recebeu um atestado para 30 dias de licença.
A auxiliar de enfermagem retornou aos plantões de 24 horas no último dia 3. Seu segundo plantão do ano seria realizado no dia em que teve a crise de pânico. A profissional diz que não vai mais seguir na função, até que o hospital seja realocado.
“Ontem percebi que não tenho condições de trabalhar lá. Estamos em uma área de risco, e ninguém faz nada por nós. Se acontecer algo, o que será feito para ajudar os pacientes? Porque o nosso instinto de sobrevivência nos fará correr. Como vai ficar minha cabeça se eu deixar meus pacientes morrerem?”
Sousa afirma que irá voltar ao psiquiatra e relatar a crise de pânico. Ela pretende pedir transferência para outra unidade de saúde do estado. “Se não sair a transferência, vou pedir exoneração. Não dá mais. Quero trabalhar para viver, não para morrer. Pode a Defesa Civil ou quem quiser falar, mas a verdade é que o Portugal Ramalho corre risco de cair e matar os pacientes”, diz ela.
A diretora do Hospital Portugal Ramalho, Maria Derivalda Andrade, explica que desde que o local foi classificado como área de criticidade 01, existe preocupação com a saúde mental dos funcionários. Segundo ela, muitos deles estão em pânico, desde o anúncio de colapso da mina 18.
O hospital tem 160 leitos e 19 pacientes moram na unidade, atualmente. De acordo com a diretora do hospital, durante as discussões com a PGE (Procuradoria Geral do Estado), houve uma proposta para relocação provisória, mas não foi achado um prédio que comportasse a estrutura.
Diante da demora, em dezembro passado, funcionários procuraram o MPT (Ministério Público do Trabalho). Eles formalizaram uma denúncia para tentar resolver a situação.
“A gente está ilhado. Os ônibus deixam os funcionários na avenida Fernandes Lima, e o percurso até o hospital tem uma área deserta. A sede do SAMU, aqui do lado, já está certa que vai sair; isso nos desespera mais ainda. Todos os prédios privados já estão desocupados.”
Maria Derivalda Andrade, Diretora do Hospital Portugal Ramalho.
O MPT passou a investigar o caso, neste mês. Segundo o órgão, a primeira medida adotada foi notificar a Defesa Civil de Maceió para esclarecer “se a manutenção das atividades da parte ora investigada, no local onde funciona o Hospital Portugal Ramalho, representa, ou não, risco à integridade física e/ou psíquica de seus trabalhadores”.
Na região, além do hospital psiquiátrico e da unidade do SAMU, estão localizados também o Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial) Dr. Everaldo Moreira, o Ceaf (Componente Especializado da Assistência Farmacêutica) e o 4º Batalhão da Polícia Militar. Todos em área de criticidade 01 —podendo operar sob monitoramento, segundo a Defesa Civil.
“A nossa preocupação é com a saúde mental, não só dos pacientes, mas também dos funcionários”, afirma Ronaldo Augusto de Alcântara, presidente do Sindprev (Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Previdência, Seguro Social e Assistência Social) de Alagoas. Segundo ele, na iminência de colapso da mina 18, funcionários ficaram apavorados. Ele cobra uma solução.
“Há uma intranquilidade muito grande. Tem trabalhadores que estão em sofrimento.”
Ronaldo Augusto de Alcântara, presidente do Sindprev-AL
O que diz a Braskem
A Braskem informou ” todos os equipamentos públicos citados na reportagem estão localizados na área 01 do mapa definido pela Defesa Civil de Maceió em 2020″. “Além do monitoramento, a empresa realiza ações de recuperação e manutenção das estruturas de todos os imóveis, e segue em discussões técnicas e jurídicas com o Estado para viabilizar a realocação definitiva. O Hospital Portugal Ramalho já dispõe de projetos preliminares para a construção da nova unidade”.
Sobre o Caps AD, no entanto, a empresa afirma que ele está fora do mapa definido pela Defesa Civil em 2020. A Defesa Civil, por outro lado, confirma que essa unidade também se encontra em área de monitoramento, com criticidade 01.
“A região ocupada nos bairros é constantemente monitorada e não existem estudos técnicos que indiquem a necessidade de novas desocupações”
Braskem, em nota.
O que diz o Governo do Estado de Alagoas
O governo estadual informou que só é possível discutir a situação da área que envolve o hospital e as demais unidades do Estado como um todo e não em partes fracionadas, “como quer a Braskem”.
“Por hora, o hospital permanecerá no local, onde vem funcionando normalmente.”
Governo do Estado de Alagoas
Sobre o SAMU, o governo informou que a unidade sairá da região por ter passado a fazer parte do Programa Salva Mais, em conjunto com o Corpo de Bombeiros.
O que diz a Prefeitura de Maceió
Questionada pelo UOL sobre possíveis destinos para o Caps AD Dr. Everaldo Moreira, a gestão municipal informou que ele “não está na área de criticidade 00, siderada para realocação imediata”.
Fonte – Jornal de Alagoas