Apesar das ações do governo Lula para amenizar a rivalidade entre eles, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e o senador Renan Calheiros (MDB) já estão se preparando para uma série de confrontos na busca por prefeituras em Alagoas no próximo ano. Observadores de ambos os lados acreditam que o clima melhorou após a intervenção do Palácio do Planalto, mas tende a se tornar mais tenso à medida que as eleições se aproximam. Lira e Renan estão de olho na disputa pelo Senado em 2026, e seus aliados consideram que o apoio dos prefeitos será fundamental para essa empreitada.
No evento de lançamento do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Alagoas na última segunda-feira, Lira fez questão de compartilhar o palco com o governador Paulo Dantas e o ministro dos Transportes, Renan Filho, ambos do MDB. Ele declarou que está disposto a trabalhar com seus oponentes desde o final da eleição. No ano passado, enquanto o presidente da Câmara apoiava o ex-presidente Jair Bolsonaro, o senador incentivava o apoio do MDB a Lula já no primeiro turno. Lira enfatizou: “Eu era frequentemente questionado: ‘Você vai ao evento (do PAC)?’. O (ex-)governador Renan Filho deve ter ouvido isso também. Ninguém sai sem um pedaço arranhado daqui. O recado é claro: eu olho para frente, adiante”.
A presença de Lira no evento do PAC, segundo aliados, foi solicitada pelo presidente Lula, que vê a reconciliação com Renan como importante para lidar com mais facilidade no Congresso. No entanto, duas ausências no palco expuseram ressalvas do grupo dos Calheiros em relação a essa aproximação: a ausência do próprio Renan e a do presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, Marcelo Victor (MDB).
Victor foi alvo de uma operação da Polícia Federal às vésperas das eleições de 2022, sob suspeita de compra de votos, que ele nega. Na época, ele afirmou ter identificado o envolvimento de Lira no caso. Em entrevista ao GLOBO, o deputado minimizou sua ausência no evento do PAC, alegando ter outro compromisso marcado anteriormente, mas mencionou que o cenário local não está gerando tensão.
Outros correligionários de Renan Calheiros moderaram seu discurso para evitar ataques ao presidente da Câmara. Um membro do MDB, ao ser questionado sobre sua relação com Lira, pediu um tempo para refletir: “Deixa eu ver o que posso achar do Arthur agora”.
Por outro lado, dois integrantes do partido de Lira reconhecem que a trégua entre o presidente da Câmara e Renan faz parte dos esforços de governabilidade junto ao Palácio do Planalto e admitem a possibilidade, ainda que remota, de um alinhamento informal entre PP e MDB em 2026, quando duas cadeiras do Senado estarão em disputa.
No entanto, a preparação de Lira e Renan para as próximas eleições já se assemelha a uma guerra antecipada em 2024. Aliados de Lira acreditam que a eleição de Renan Filho ao Senado no ano passado foi influenciada pelo apoio da maioria dos prefeitos de Alagoas ao MDB, e, por isso, buscam expandir sua influência. Arthur Lira planeja lançar pelo menos quatro parentes como candidatos a prefeito: seu pai, Biu de Lira, que concorrerá à reeleição em Barra de São Miguel; seu primo paterno César Lira, cotado para Maragogi; e seus primos maternos Pauline e Joãozinho Pereira, que devem concorrer em Campo Alegre e Junqueiro, respectivamente.
Em Junqueiro, berço político da família Lira, Joãozinho, que é o superintendente estadual da Codevasf, está usando obras financiadas com emendas do presidente da Câmara para se destacar na disputa contra o prefeito Leandro Silva (MDB). Por sua vez, Renan pretende apoiar um sobrinho, Remi Filho, para suceder outro sobrinho, Olavo Neto, na corrida pela prefeitura de Murici, cidade natal dos Calheiros. Desde o início do ano, o ex-deputado Davi Davino Filho (PP), aliado de Lira, tem articulado uma candidatura de oposição no município. Ele busca filiar ao PP um ex-aliado que rompeu com os Calheiros, Eduardo Oliveira, para concorrer à prefeitura. Em resposta, Renan filiou ao MDB o vice-prefeito de Barra de São Miguel, Floriano Melo, que está considerando concorrer contra o pai de Lira.
O senador também tem pressionado aliados de Lira nas principais cidades de Alagoas. Em Maceió, Renan apresentou uma representação ao Ministério Público para investigar a compra de um hospital privado pelo prefeito João Henrique Caldas (PL) por R$ 266 milhões. O senador levantou suspeitas de desvio de recursos na operação, que foi realizada sem licitação. Os aliados veem essa disputa como a mais provável de azedar a trégua entre Renan e Lira, que indicou nomes para o secretariado de Caldas. O deputado federal Rafael Brito (MDB), cotado para concorrer à prefeitura de Maceió, afirmou: “Quanto mais distante o processo eleitoral, mais as feridas vão cicatrizando. Mas a eleição em Maceió será o embate mais importante de 2024”.
Em Rio Largo, a terceira maior cidade do estado, Renan também tem explorado investigações contra o prefeito Gilberto Gonçalves (PP), aliado de Lira, que chegou a ser preso em uma operação da PF por desvio de recursos em 2022. O senador planeja lançar um aliado, Rafael Tenório, presidente do clube de futebol CSA, como candidato à prefeitura pelo MDB. Enquanto isso, Lira trabalha para se aproximar de aliados de Renan, o que pode complicar o cenário eleitoral em Alagoas. Em Penedo, no sul do estado, o ex-secretário estadual de Educação Marcius Beltrão (PSB) rompeu com o atual prefeito do MDB e planeja se candidatar com o apoio tácito do governo e de Lira, contra a vontade de Renan. Em Arapiraca, a segunda cidade mais populosa, o prefeito Luciano Barbosa permanece no MDB, mas filiou seu filho, o deputado federal Daniel Barbosa, ao PP.
Fonte – Extra