O deputado federal Daniel Barbosa publicou mais um artigo nesta segunda-feira (25). Intitulado “Um Brasil pela paz e contra a fome”, o texto é um convite à reflexão sobre o futuro da humanidade.
No decorrer das linhas, o parlamentar alagoano relembrou que o Brasil é um dos países fundadores da ONU e classificou como coerente o oitavo discurso do presidente Lula à organização internacional, proferido no último dia 19 de setembro, e que pautou temas como paz, cultura, prosperidade, meio ambiente e sustentabilidade.
“Respeito as diferenças de opinião e acredito no entendimento como o caminho ideal para construir soluções sólidas e duradouras. A humanidade tem um destino comum que exige a união de todos e não há outra via para a salvação a não ser a fraternidade”, deixou claro o deputado.
Confira o artigo na íntegra:
UM BRASIL PELA PAZ E CONTRA A FOME
Em 21 de setembro de 1945, o Brasil ratificou a Carta das Nações Unidas, adotada logo após a Segunda Grande Guerra com o objetivo de reafirmar os direitos fundamentais individuais, a dignidade e o valor do ser humano, a igualdade de direitos entre homens e mulheres e assegurar a paz mundial. Esse importante documento entrou em vigor na dada de 24 de outubro de 1945. Estava criada a ONU.
No preâmbulo da Carta os países signatários se comprometem a proteger as gerações vindouras do flagelo da guerra, promover o progresso social e proporcionar melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla. Logo no seu primeiro artigo está consagrado o propósito da Organização das Nações Unidas de manter a paz e a segurança internacionais e, por meios pacíficos e de acordo com os princípios da justiça e do direito internacional, estabelecer soluções para as controvérsias. A mensagem é de paz.
O Brasil é membro fundador da Organização das Nações Unidas. Nesse contexto é essencial registrar o relevante desempenho da delegação brasileira na Conferência de São Francisco, nos Estados Unidos da América, em junho de 1945. A intervenção da diplomacia brasileira foi decisiva para que os legítimos interesses de todos os Estados-membros fossem abrangidos pela nova instituição, que substituía a fracassada Liga das Nações.
Desde 1955 o Brasil tem o privilégio de proferir o discurso de abertura do Debate Geral da sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, um ambiente democrático onde prevalece o diálogo e a cooperação entre os 193 Estados-membros, sem qualquer tipo de preconceito ideológico ou de orientação política. Na terça-feira, dia 19 de setembro deste ano, o presidente Luís Inácio Lula da Silva discursou na ONU pela oitava vez.
Lula falou de paz, cultura e prosperidade. Falou de meio ambiente. Falou de sustentabilidade. Ao tratar desses assuntos, o presidente foi coerente com a Carta das Nações, com os tratados e acordos internacionais ratificados pelo Brasil e com o histórico do país no campo diplomático.
Ao longo do tempo o Brasil tem contribuído para os propósitos da ONU, notadamente na concepção de regras de proteção dos direitos humanos e resolução pacífica de crises e conflitos. Na área ambiental sediou, em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável e, vinte anos depois, a Rio+20. Além disso, teve firme atuação na Agenda 2030 que fixou metas para a redução da pobreza e da desigualdade social.
Em seu pronunciamento, Lula advertiu que a sustentabilidade e a prosperidade dependem da paz, cuja construção é um dever de todos nós. Manifestou, portanto, coerência com sua trajetória política e com a Carta das Nações Unidas. Além disso, guardou sintonia com a história de um país que participou de quase 50 missões de paz da ONU e apoiou a criação da Comissão de Consolidação da Paz, que ampara os países atingidos por conflitos.
Condenou a desinformação e os crimes cibernéticos. Anunciou que ao assumir o comando do G20 em dezembro vai trabalhar para inserir o combate às desigualdades em todas as suas dimensões no centro da agenda internacional. Assinalou que os conflitos armados são uma afronta à racionalidade humana e citou as dificuldades da criação de um Estado para o povo palestino, a interminável crise humanitária no Haiti e, entre outros conflitos, a guerra da Ucrânia com a Rússia.
Certamente imaginar um mundo sem confrontos é utopia. No entanto, devemos dedicar os nossos esforços para substituir os conflitos pelo entendimento e pela harmonia. Se os embates são inevitáveis, estratégias para reduzi-los e formas pacíficas para resolvê-los são essenciais. Além disso, deve-se compreender que a paz só se realiza quando prevalece o diálogo, a sensatez e o respeito pelo ser humano. O radicalismo, o espírito de dominação e o preconceito só atrapalham; é como pretender apagar fogo com gasolina.
O discurso tocou nos principais problemas globais, seguiu a Carta das Nações Unidas e não esqueceu a inclusão social, o combate à fome e o desenvolvimento sustentável. Combater a fome sempre foi compromisso prioritário do presidente Lula.
Entre 2002 e 2005, o ex-presidente José Sarney, uma das mais expressivas personalidades da política brasileira, escreveu colunas semanais para o jornal Folha de São Paulo. Esses textos, que contêm maciças lições de vida, foram reunidos num livro intitulado “Semana sim, outra também: Crônicas do Brasil Contemporâneo”.
Recordo de uma dessas crônicas, publicada em janeiro de 2003, em que José Sarney trata a fome como vergonha mundial e aborda o chamamento do presidente Lula para um mutirão generoso de combate a esse suplício, que não pode subsistir num país de tão amplas riquezas e grande capacidade de produzir alimentos como o nosso. E conclui que a ajuda humanitária dos países ricos é inferior às necessidades.
Em pleno Século XXI é inaceitável que 735 milhões de pessoas passem fome no planeta e dois bilhões de seres humanos sobrevivam em situação de insegurança alimentar e, pior, que esses números trágicos estejam aumentando. Por isso, para dominar essa situação precisamos implementar políticas públicas efetivas de inclusão social. O combate à fome é prioridade da agenda nacional e internacional. Vamos dizer não ao egoísmo e sim à solidariedade; não à miséria e sim ao progresso; não à guerra e sim à paz.
Ao divulgar a Campanha da Fraternidade da CNBB para 2023, Dom Odílio Scherer lembrou a todos nós que “a fome dos nossos semelhantes interpela nossa consciência e a qualidade das nossas relações sociais e fraternas”. É muito triste se deparar com pessoas vasculhando lixo tentando encontrar alguma coisa para comer. A fome, que machuca e humilha, deve ser banida do mundo.
O discurso do presidente Luís Inácio Lula da Silva na sede da ONU em Nova Iorque mostra que o protagonismo do Brasil nas relações internacionais está sendo reconstruído. Como membro da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados vejo esse recomeço com contentamento e esperança.
Na construção da liderança brasileira nas relações internacionais, o jurista alagoano Francisco Inácio de Carvalho Moreira, Barão de Penedo, se distinguiu como o mais notável diplomata brasileiro no Império, desempenhou significativo papel em defesa do país na Questão Christie e foi o primeiro cidadão das Américas a receber o título de doutor honoris causa da prestigiada Universidade de Oxford.
Gosto de trabalhar com conceitos positivos, respeito as diferenças de opinião e acredito no entendimento como o caminho ideal para construir soluções sólidas e duradouras. A humanidade tem um destino comum que exige a união de todos e não há outra via para a salvação a não ser a fraternidade. Devemos fazer a nossa parte, com determinação, no enfrentamento da miséria e por dias melhores para o Brasil e o mundo, com educação, saúde, segurança e comida para todos. Nelson Mandela nos ensinou que o que define a importância da nossa própria vida é a diferença que fizemos na vida dos outros.