Dizem que o tempo cura as feridas. E como tempo também é dinheiro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), e o governador Paulo Dantas (MDB) resolveram deixar as rusgas do passado, uniram os interesses e rapidamente fizeram as pazes, trocando afagos públicos. Tudo “pelo bem de Alagoas”.
Tudo isso também está ligado à disputa ao Senado em 2026. São duas vagas. Paulo Dantas sinaliza não ter interesse de concorrer, o que teoricamente facilita para Arthur Lira, cujo maior opositor é o senador Renan Calheiros (MDB), que vai para a reeleição e busca um “irmão siamês” para desestabilizar a campanha do deputado. Paulão (PT) obteve autorização de Renan para disputar o Senado, mas o lirismo crê que ele será “varrido para debaixo do tapete diante da força de Arthur Lira junto aos prefeitos”.
Enquanto isso, Paulo Dantas ensaia uma posição mais amena quando o assunto é Arthur Lira, bastante diferente das eleições do ano passado. O governador fez acusações pesadas contra o presidente da Câmara, o “maior bandido de Alagoas”, palavras dele.
“A PF [Polícia Federal] em AL está aparelhada. A superintendente da PF todos os alagoanos sabem: ela foi indicada por Arthur Lira, o maior bandido que esse Brasil tem. O Arthur Lira, que tomou conta de todo o orçamento do Brasil, tirando todas as condições para que os mais humildes entrem nas faculdades, para que os mais humildes tenham mais oportunidades.”, dizia Dantas, em cima dos palanques instalados pelo Estado.
Foi na mesma época do estouro da Operação Edema, que investigou mais um esquema de corrupção na Assembleia Legislativa. Desta vez o governador foi acusado de desviar R$ 48,3 milhões através de 93 funcionários fantasmas que recebiam vencimentos maiores que R$ 15 mil. Segundo a PF, Paulo Dantas liderava o esquema, envolvendo outras 24 pessoas, entre elas Marina Dantas, primeira dama de Alagoas.
Dantas foi afastado e voltou ao cargo durante a campanha eleitoral. O Supremo Tribunal Federal entendeu que a medida desequilibrava a disputa eleitoral. Esta semana, o ministro Gilmar Mendes confirmou este entendimento e anulou a validade das provas.
Nos últimos meses, Dantas e Lira evitam troca de acusações. Mesmo nas investigações da imprensa nos kits de robótica, envolvendo aliados ou pessoas bastante próximas do presidente da Câmara, ou a crise sem fim do Hospital Veredas, onde Lira é quem indica a direção financeira, usada para desviar dinheiro público recebido pelo hospital, de acordo com o senador Renan Calheiros (MDB).
Lira agiu da mesma forma com Paulo Dantas, ao silenciar sobre o indiciamento, em julho, do governador nas investigações da Operação Edema.
A partir daí, Lira e Dantas ergueram bandeiras brancas dos seus QGs. Em julho, Jullyene Lins, ex-mulher do presidente da Câmara, pediu para ser exonerada do Governo. Ela recebia R$ 10.527 e estava lotada na Secretaria Estadual de Agricultura, onde foi admitida em fevereiro. Lins acusa Lira de estupro e desvios de dinheiro.
Recentemente, Arthur Lira intermediou em Brasília o credenciamento de hospitais ao Sistema Único de Saúde (SUS), construídos durante a pandemia. São R$ 260 milhões destinados a estes hospitais novos.
“Não há diálogo permanente acerca dos problemas daqui. Alinhamento político não temos, mas há uma obrigação de trabalharmos juntos pelo estado. As eleições passaram e continuo com o meu trabalho pelo desenvolvimento de Alagoas, e isso se reflete nas conquistas que temos alcançado”, disse o deputado federal.
A estratégia de Arthur Lira é pragmática: busca agregar a maior quantidade possível de prefeitos para se lançar ao Senado. Já tem a promessa de prefeitos calheiristas: o segundo voto ao Senado é de Lira. Para azeitar a parceria, estica a agenda com inaugurações de obras, eventos e promessas de máquinas distribuídas pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), equipamentos cuja manutenção é caríssima e que será paga por prefeituras cujos recursos são contados na ponta do lápis. Mas Lira aperfeiçoa o caminho das pedras: busca mais bilhões de reais para a construção de casas populares. “Já levei a demanda para o governo federal e estou articulando este trabalho junto aos ministérios, recebendo muita receptividade dos organismos federais nesta demanda. Tudo porque a causa é mais que justa, uma vez que o deficit habitacional alagoano ainda é por demais elevado”, diz o presidente da Câmara. Alagoas agradece tanta bondade, perante os céus.
Fonte – Extra