O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), quer transformar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em mascote do Centrão. A pressão incomoda o senador Renan Calheiros (MDB) porque há algo maior em jogo: o controle do orçamento federal. Quem tiver ministérios mais cheios de verbas terá mais aliados, poder, influência eleitoral. E teremos votação em outubro do ano que vem.
Em Alagoas, tanto Lira quanto Renan disputam, palmo a palmo, prefeitos e vereadores. E os café da manhã, almoços e jantares não são de graça. Lira está conseguindo recriar a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) – extinta em 2 de janeiro. Mas o Centrão também quer os ministérios do Turismo, Esportes e do Desenvolvimento Social. Em troca, Lula quer votos para as demandas no governo na Câmara.
Em outros tempos, o nome disso seria achaque. Hoje é governabilidade. Todos estes cargos significam penetração, capilaridade nos municípios. Ou seja: manter a influência em currais eleitorais, fechando o apoio de prefeitos que, em troca, oferecem votos principalmente entre os milhares de comissionados e famílias pendurados nas folhas de pagamento dos municípios.
O PP e o União Brasil é que estão discutindo como será a nova Funasa, que recebe emendas parlamentares impositivas (metade destas emendas têm de ir para a saúde). Ela sempre foi estratégica nas bases eleitorais de deputados e senadores. O orçamento da fundação era de R$ 3,4 bilhões. No Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2023, atualizado em 9 de setembro do ano passado), a Funasa em Alagoas indicava aos deputados federais e senadores as emendas que poderiam ser destinadas a projetos de esgotamento, saneamento rural e distribuição de água nas cidades de Boca da Mata, Estrela de Alagoas, Coité do Nóia, Inhapi, Olho d’Água do Casado, Piranhas, Major Isidoro, Anadia, São Brás, Girau do Ponciano, Poço das Trincheiras e Ibateguara.
O mais caro destes projetos fica em Anadia, cuja valor aprovado foi de R$ 14,5 milhões. Deste dinheiro, R$ 12,1 milhões estavam empenhados e faltavam R$ 2,4 milhões para empenhar. O menor valor era em Olho d’Água do Casado: R$ 351.197,66, com R$ 346.500 de valor empenhado e R$ 4.697,66 de valores a empenhar. Existe algo em comum nestas cidades: o baixíssimo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), maioria da população recebendo até um salário mínimo e no limiar da sobrevivência.
Um povo nas mãos de lideranças políticas. Por outro lado, são cidades que recebem grande quantidade de verbas federais para projetos que deveriam diminuir a desigualdade social. Por anos, a Funasa em Alagoas esteve no eixo gravitacional de Renan Calheiros.
Fonte – Extra