Com os direitos políticos suspensos até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Jair Bolsonaro trabalhará para consolidar o seu papel de líder da oposição e de cabo eleitoral, principalmente de seus filhos e de sua esposa, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Logo após a derrota sofrida no TSE, o ex-presidente deu mostras contundentes de sua disposição para continuar no jogo e intensificar a polarização com Lula, que lhe garante visibilidade e mantêm o bolsonarismo-raiz mobilizado.
Numa entrevista, Bolsonaro disse que estava na UTI, mas não morto. Um de seus auxiliares mais próximos divulgou uma foto do capitão sem camisa, como forma de reavivar a memória da facada que ele sofreu na campanha de 2018 e, de quebra, o discurso segundo o qual o ex-presidente é vítima recorrente de perseguição. Bolsonaro também determinou ao seu partido, o PL, dono da maior bancada da Câmara, que votasse contra a reforma tributária, projeto prioritário do governo Lula, num sinal de que não haverá trégua no embate com o adversário. Aprovada pela Casa, a “reforma tributária do PT”, como a definiu Bolsonaro, recebeu votos favoráveis no primeiro turno de 20 dos 99 deputados do PL, em mais um revés para o capitão.
Enquanto não consegue reverter a própria inelegibilidade, Bolsonaro fará de tudo para ampliar o sucesso eleitoral de sua família. A principal aposta no clã é Michelle Bolsonaro, que assumiu a presidência do PL Mulher e está percorrendo o país em eventos partidários. Hoje, a ideia da legenda é lançá-la candidata ao Senado pelo Distrito Federal, que deu 58% dos votos válidos ao ex-presidente no segundo turno da corrida presidencial passada. A avaliação é de que, mesmo neófita, Michelle conquistará facilmente uma das duas vagas que estarão em disputa, repetindo o sucesso eleitoral de sua amiga Damares Alves.
De início, tanto Bolsonaro quanto Michelle descartavam eventual candidatura dela. Agora, no entanto, o capitão já admite a possibilidade de sua mulher concorrer a um cargo legislativo. A ex-primeira-dama costuma dizer que sua candidatura só sairá do papel se o coração dela “arder” pelo cargo em questão. Até 2026, há tempo de sobra para incentivar esse sentimento.
Fonte – VEJA