No mês de festas juninas, o governador Paulo Dantas (MDB) e o prefeito JHC (PL) disputam o título de que tem os cofres mais cheios de dinheiro.
Ambos adiantaram o pagamento dos salários do funcionalismo para esta semana. Não existe almoço grátis: além de buscar a reeleição, JHC tem compromisso de reeleger mais vereadores de sua bancada na Câmara, preparar o próprio nome para disputar o governo em 2026 e virar cabo eleitoral do senador Rodrigo Cunha (Podemos) e do deputado federal Arthur Lira (PP). Lira deve arriscar a segunda cadeira no Senado. A outra na disputa é de Renan Calheiros (MDB) e ele próprio quer a reeleição.
Paulo Dantas também é cabo eleitoral no interior, onde o grupo tem mais força política, e na capital, onde o calheirismo nunca elegeu um prefeito. Também precisa agregar vereadores e prefeitos no círculo de aliados para, em 2026, turbinar o grupo (e ele próprio) na disputa majoritária. O governador pode se lançar ao Senado ou disputar uma das nove vagas a federal.
Discurso
Há décadas, o pagamento em dia dos servidores públicos e o sempre afamado “equilíbrio das contas públicas” virou benesse e não dever do chefe do Executivo.
Num passado bastante recente, os governadores atrasavam os salários dos servidores. A situação piorou no governo Divaldo Suruagy. Em 17 de julho de 1997, ele foi obrigado a renunciar após uma revolta popular que cercou o prédio da Assembleia Legislativa. Revolta causada por seis meses de salários não pagos, incluindo direitos trabalhistas. Prédios com vários andares no centro da capital alagoana passaram a reforçar a segurança de janelas, escadas e corredores por causa da onda de suicídios entre trabalhadores desesperados e sem crédito na praça para compras de primeira necessidade, como alimentação. Famílias inteiras também eram assassinadas por policiais militares que em seguida se matavam, em meio ao caos social.
A situação foi sendo revertida, aos poucos, quando Ronaldo Lessa assumiu o governo. E o pagamento em dia mais os concursos públicos viraram propaganda positiva no imaginário popular. Dever transformado em favor, até hoje.
No mesmo imaginário está a obediência às regras da lei de responsabilidade fiscal. Na prática fartamente usadas por prefeitos e governadores para conter os reajustes ou recomposições salariais, além de atrair empréstimos bilionários com instituições nacionais ou internacionais.
Dantas anunciou esta semana empréstimo de R$ 1,045 bilhão com o Banco do Brasil para a conclusão da AL-220 (entre Arapiraca Delmiro Gouveia) e o saneamento básico da região Norte. Há outros 300 milhões de dólares que o governo busca junto ao Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) “com aplicação dos recursos no âmbito do Programa Alagoas Mais Sustentável”, segundo a justificativa publicada no Diário Oficial do Estado.
De acordo com a secretária Estadual da Fazenda, Renata Santos, “a equipe da Sefaz identificou a oportunidade junto do Banco Mundial para reestruturação de dívidas nacionais atreladas a Selic. O que a gente está fazendo vai proporcionar economia no serviço da dívida (juros) e estoque da dívida (valor total)”.
O prefeito JHC também solicitou empréstimos, ambos no ano passado:
- ao Banco Regional de Brasília (BRB), no valor de R$ 200 milhões, para “recuperação, modernização e implantação de melhorias na rede de drenagem do território compreendido entre a Avenida João Davino e o Porto de Maceió e na região que envolve a Avenida Gustavo Paiva”;
- ao Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata), no valor de até US$ 40 milhões, para “obra do novo Mercado da Produção, que promoverá a geração de emprego e renda local com aumento da quantidade de boxes de espaços de comercialização, inclusão de restaurantes e de serviços públicos. Sua capacidade de recepção será maior, duplicando os 10 mil usuários que diariamente transitam pelo local”.
Fonte – Extra