No último mês, líderes partidários da Câmara dos Deputados começaram a trabalhar com a perspectiva de que, hoje, a extensão do poder do presidente da Câmara, Arthur Lira, é diferente da que era no governo Jair Bolsonaro — e, por isso, a pressão que ele é capaz de exercer, também.
A falta de controle sobre a liberação de verbas no Ministério da Saúde é a questão central para esse clima de desconfiança. Com o fim das emendas de relator (“orçamento secreto”), R$ 9,6 bilhões deixaram de estar sob poder do Congresso neste ano. Desta quantia, R$ 3 bilhões estão na Saúde.
As verbas da Saúde se tornaram as prediletas dos deputados no governo Jair Bolsonaro por conta do sistema de transferências “fundo a fundo”. O parlamentar aliado ao governo escolhia as prefeituras que receberiam milhões em caixa sem passar por avaliações técnicas complexas.
No início deste ano, para viabilizar o pagamento desses R$ 3 bilhões e do restante das verbas, o gabinete de Arthur Lira colheu, como de costume, as indicações dos parlamentares da base para onde enviar esse dinheiro.
Como mostrou a coluna, porém, o Ministério da Saúde jogou um balde de água fria nas pretensões dos parlamentares, permitindo indicações políticas, mas baixando uma portaria com uma série de requisitos técnicos.
Hoje, é preciso confirmar, no cadastro das propostas, que o prefeito realmente precisa daquela verba. A decisão atende ao que determinou o Supremo Tribunal Federal (STF) ao proibir as emendas de relator. Em meio à burocracia, as liberações estão emperradas.
Nos outros ministérios, o dinheiro começou a sair, mas não para os líderes do Centrão do grupo de Arthur Lira. O ministro das Cidades Jader Filho privilegiou sua própria cidade, como mostrou a coluna, e Carlos Favaro, ministro da Agricultura, liberou recursos para seu estado, o Mato Grosso, como mostraram Thiago Resende e Mateus Vargas.
Com o poder do orçamento secreto começando a ruir, outro fator enfraqueceu o poder de Lira: uma operação da Polícia Federal (PF) mirando pessoas diretamente ligadas ao presidente da Câmara dos Deputados. Até aliados fiéis já admitem que as revelações são graves e Lira parece encurralado.
Hoje, há sérias dúvidas sobre se vale esticar a corda nas próximas negociações com o governo — voto de qualidade no Carf e reforma tributária — e se o presidente da Câmara tem condições de sustentar um blefe como fez na aprovação da reforma ministerial.
Fonte – Metrópoles