Quem acompanha a cobertura jornalística dos trabalhos da Casa de Tavares Bastos sabe que o deputado estadual Paulo Dantas (MDB), em que pese sua atuação de bastidor e um ou outro projeto encampado por ele, nunca esteve com tanta evidência na mídia.
Não se trata apenas da imprensa, mas também do reforço na identidade visual de seu nome pelas ruas do Estado, com adesivos em veículos e outras estratégias que garantam ao parlamentar uma maior visibilidade: coisa que até então ele não tinha, até por ser detentor de um mandato bem mais discreto do que a agressiva campanha em torno de seu nome nesse momento.
Ora, nas disputas eleitorais alagoanas, tal volume de exposição definido por uma estratégia de marketing político não se daria se Paulo Dantas fosse apenas mais um nome na busca pela reeleição a uma das cadeiras da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas.
De repente, não mais que de repente, o nome de Dantas é empurrado para subir ao Olimpo, testando a própria viabilidade para poder ser um ponto a unir forças e condições de voos maiores. Leia-se: a disputa pelo governo do Estado de Alagoas.
Como nada no parlamento ocorre sem o aval do onipresente presidente Marcelo Victor (Solidariedade), o deputado estadual Paulo Dantas é posto no xadrez como representante de um grupo.
Isso significa que, caso o governador Renan Filho (MDB), deixe o Executivo estadual para disputar o Senado Federal, Dantas pode ser o “tampão” e, consequentemente, o candidato à reeleição. Ele seria o candidato de Marcelo Victor que ainda sonha em unir todos caciques em torno de si, tendo espaço, inclusive, para que nessa chapa o candidato ao Senado seja Renan Filho.
Marcelo Victor tenta ocupar o espaço do exímio enxadrista nesse jogo de paciência cujas regras nem sempre são explícitas, e obedecem muito mais às circunstâncias fisiológicas do que às ideias.
Por essa razão, se antes o nome de Paulo Dantas não era tão comum nas páginas de jornais, se o volume de adesivos era bem menor e se a busca por construir – por meio do marketing – a imagem de um parlamentar combativo, atento a todas as pautas, com posições sempre em prol do desenvolvimento do Estado, tinha menos exposição, agora ela é forçada em função do “time” que se tem para construir, ainda que artificialmente, uma viabilidade que pareça natural.
Isso não é, caro leitor, uma análise do mandato de Paulo Dantas como deputado estadual. Mas apenas atestar o óbvio: atualmente, Paulo Dantas trabalha para ocupar um papel visível de alguém que une todas as condições para ser governador do Estado.
No marketing, isso vai sendo trabalhado passo a passo dentro de uma estratégia que respeita o calendário posto. Se ele se viabiliza, e aí entra muito do mérito próprio, ele passa a ocupar a lacuna e a ter peso, inclusive sendo peça no xadrez para, não sendo candidato ao governo, ser cogitado a outras posições do jogo, como vice etc.
Faz parte!
Agora, nem de longe, o Paulo Dantas que surge agora é o mesmo que esteve por três anos no parlamento. Aqueel era bem mais silencioso, bem mais afeito ao bastidor, com uma relação até positiva entre os colegas, mas – até mesmo por talvez não ter tido as pretensões que hoje cai em seu colo – distante de ser uma das possibilidades naturais a disputar o Palácio República dos Palmares.
Dessa forma, a aposta em Paulo Dantas surge muito mais como reflexo do momento de ausência de lideranças para essa missão.
Há muito aí também do fato de Renan Filho não ter construído sucessor, que já é uma marca dos Calheiros. Nunca é demais lembrar de uma frase da deputada estadual Jó Pereira (MDB) a respeito do chefe do Executivo estadual: “um líder solitário”.
A solidão palaciana de Renan Filho faz com que no MDB de Alagoas ninguém cresça para além da sombra, pois só dois líderes podem estar totalmente expostos ao sol: o governador e o pai, o senador Renan Calheiros (MDB).
Politicamente, a jogada do parlamento estadual (o grupo de Marcelo Victor) é inteligente: construir alguém para ocupar o vácuo ao mesmo tempo em que trabalha a ponte com quem hoje está no poder, para ir viabilizando a candidatura ao mesmo tempo em que se constrói alianças e apara arestas.
Daí, evidentemente, pode surgir uma forte chapa em termos de densidade política, quantidade de partidos aliados etc. Porém, muitas vezes esses grupos extremamente densos não conseguem, como se diz no popular, combinar com russos.
Fonte – Cada Minuto